sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Apresentações da Conferência da AMIA 2014

Nesse link você pode baixar as apresentações de slides de algumas das conferências proferidas no Encontro da AMIA (Association of Moving Image Archivists) de 2014.
Ótima oportunidade para se inteirar das mais recentes discussões no campo da preservação audiovisual.

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Cinemateca Brasileira promove oficinas técnicas



CINEMATECA BRASILEIRA PROMOVE OFICINAS TÉCNICAS
Oficinas serão gratuitas e abertas para profissionais do audiovisual e estudantes
A partir de dezembro de 2014, serão realizadas na Cinemateca Brasileira três oficinas voltadas à formação técnica de profissionais nas áreas de Preservação, Restauração, Catalogação e Documentação. Cada oficina terá carga horária de 30 horas e oferecerá 20 vagas para estudantes universitários, profissionais de instituições vinculadas à Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA) e à Reunião Especializada de Autoridades Cinematográficas e Audiovisuais do Mercosul (RECAM), e técnicos de outras instituições afins.
A iniciativa integra o Termo de Cooperação firmado entre o Ministério da Cultura (MinC), a Secretaria do Audiovisual (SAv), a Cinemateca Brasileira e a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). A formação técnica continuada é uma das premissas da Cinemateca, não somente no tocante à promoção do conhecimento, mas também à ampliação da oferta de profissionais especializados para o atendimento das demandas relacionadas à preservação e difusão de acervos audiovisuais.

OFICINA DE RESTAURAÇÃO AUDIOVISUAL – INSCRIÇÃO SERÃO RECEBIDAS ATÉ O DIA 21/11/2014.
08 a 12 de dezembro de 2014 / 30 horas
Palestrante: João Sócrates de Oliveira, restaurador de larga experiência e reconhecimento internacional, atua na área da restauração audiovisual desde os anos de 1970.
Compreendendo a restauração como um braço fundamental da conservação de um acervo audiovisual, a oficina pretende oferecer noções gerais da restauração fotoquímica e digital.
Serão abordados os critérios de escolha das matrizes para restauração, os processos básicos de restauração fotoquímica correlacionados com as formas de deterioração e os resultados possíveis nos procedimentos laboratoriais cinematográficos. Da mesma forma, serão discutidos os fundamentos da restauração digital, suas potencialidades e limitações, buscando mostrar a sua complementaridade com a restauração fotoquímica.

OFICINA DE PRESERVAÇÃO AUDIOVISUAL
12 a 16 de janeiro de 2015 / 30 horas
Palestrante: Hernani Heffner, Professor e Conservador da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e Maria Fernanda Curado Coelho, Coordenadora do Setor de Preservação de Filmes da Cinemateca Brasileira
Por meio de aulas teóricas e práticas, o objetivo da oficina é apresentar e discutir os conceitos e procedimentos básicos da conservação de materiais fílmicos e videográficos. Nas aulas teóricas, serão abordados os conceitos filosóficos gerais da arquivística audiovisual, como a missão institucional de um arquivo de filmes e os princípios éticos que regem o trabalho na área. Nas atividades práticas, os alunos terão a oportunidade de manusear materiais do acervo, exercitar os procedimentos de conservação preventiva e tomar conhecimento sobre as ações de conservação corretiva.
A somatória dessas atividades permitirá aos participantes entender o papel da conservação de filmes dentro de um Sistema de Preservação Audiovisual que assegure a permanência dos acervos e o acesso seguro a seus conteúdos.



OFICINA DE CATALOGAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO
02 a 06 de fevereiro de 2015 / 30 horas
Palestrante: Gabriela Sousa de Queiroz, Coordenadora do Centro de Documentação e Pesquisa da Cinemateca Brasileira e Fábio Kawano, Coordenador do Setor de Catalogação de Filmes da Cinemateca Brasileira
Estruturada em dois grandes módulos, Catalogação e Documentação, a oficina abordará os procedimentos relativos ao tratamento da informação em um arquivo de filmes.
A catalogação audiovisual consiste na descrição do conteúdo das obras (levantamento de informações visuais e sonoras, que são organizadas em um índice de assuntos para posterior recuperação) e no gerenciamento de um sistema de informações que leva em consideração os padrões internacionais de normatização.
No que concerne à Documentação, serão apresentados e discutidos os principais fundamentos da organização e difusão de acervos documentais e das atividades voltadas à filmografia brasileira, que complementam a catalogação audiovisual.
Ao final da oficina, os participantes terão compreensão dos modelos de catalogação e descrição de acervos, das estruturas de bancos de dados, bem como das atividades de pesquisa inerentes ao trabalho da instituição.

INSCRIÇÕES:
Os interessados em participar das oficinas devem se escrever para fernanda.coelho@cinemateca.org.br e yara.iguchi@cinemateca.org.br com as seguintes informações:
1. Nome completo
2. e-mail e telefone para contato
3. Mini currículo com no máximo 300 (trezentos) toques
4. Carta de intenções com no máximo 1.000 (mil) toques

A Cinemateca Brasileira fará a seleção e entrará em contato diretamente com os candidatos selecionados.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Facebook da ABPA

Dentre as minhas atividades como Diretor Técnico da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA), passei a compartilhar a responsabilidade sobre o facebook da ABPA. Enquanto a lista de e-mails da ABPA (lista-da-abpa@googlegroups.com) serve primordialmente para notícias e informes relativos à associação e seus encontros, o facebook se destina a divulgação de fatos e eventos de interesse mais geral, sobre o campo da preservação audiovisual.
Desse modo, meus posts no blog estão rareando um pouco (mas vão continuar!), enquanto convido a todos a acompanharem a ABPA na rede social: www.facebook.com/abpa.preservacao.audiovisual
Lembrando que o contato oficial com a ABPA pode ser feito através do e-mail: abpa.contato@gmail.com

sábado, 25 de outubro de 2014

Dia Mundial da Preservação Audiovisual

Dia Mundial do Patrimônio Audiovisual será celebrado em todo o Brasil

Em 2005, a UNESCO instituiu a data de 27 de outubro como o Dia Mundial do Patrimônio Audiovisual, de modo a chamar a atenção para a importância da preservação das imagens em movimento.  Anualmente, arquivos de todo o mundo se unem para comemorar a data, com atividades que não só realçam a vulnerabilidade deste patrimônio, mas também divulgam o trabalho muitas vezes desconhecidos das instituições que o protegem.

Este ano, sob o tema : “Arquivos em risco – muito mais a ser feito”, algumas instituições e organizações brasileiras planejam atividades que incluem debates, exibições de filmes e oficinas  em diferentes regiões do país.  Os eventos contam com o apoio da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA), que terá representantes de sua diretoria presente em três eventos, dois no Rio de Janeiro e um na Bahia.

Sobre o Dia Mundial do Patrimônio Audiovisual

O documento “Recomendação sobre a salvaguarda e conservação das imagens em movimento” foi elaborado em 1980 por ocasião da vigésima primeira conferência da UNESCO, e foi divulgado pela primeira vez em 27 de outubro do mesmo ano. Seu objetivo é ressaltar a necessidade urgente de preservação dos acervos de imagens em movimento dada a sua fragilidade, sujeita a diversos fatores como obsolência tecnológica, degradação dos suportes físicos e eletrônicos ou mesmo a destruição deliberada destes materiais.  Neste sentido, a UNESCO conclama os Estados-membros a promoverem medidas para garantir a salvaguarda deste material “da mesma forma como são preservados outras bens como fonte de enriquecimento para as gerações presentes e futuras.”

O documento elaborado pela UNESCO pode ser encontrado na URL abaixo (em inglês):
http://portal.unesco.org/en/ev.php-URL_ID=13139&URL_DO=DO_TOPIC&URL_SECTION=201.html

ABPA: https://www.facebook.com/abpa.preservacao.audiovisual

Eventos

Rio de Janeiro

Mesa redonda & Homenagem
Alice Gonzaga: arquivista, pesquisadora, preservadora - uma trajetória dedicada ao Cinema Brasileiro
Participantes:  Hernani Heffner (MAM), Rafael de Luna (ABPA/UFF), Roberto Faria (cineasta), Sílvia Rabello (Labocine) e Myrna Brandão (CPCB)
Data: 27 de outubro, às 18hs
Local: Auditório Cosme Alves Netto - Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM) – RJ
Endereço: Avenida Infante D. Henrique, 85 – Rio de Janeiro, RJ
Entrada franca

Simpósio
Arquivos em Risco: muito mais a fazer – Agência Nacional, um estudo de caso
Participantes: Clarissa Costa Mainardi Miguel de Castro (UFF); Viviane Gouvêa (UFRJ); Antonio Laurindo dos Santos Neto (Arquivo Nacional); Tulio Alexandre Saeta (Arquivo Nacional); Renata Vellozo Gomes (UFRJ); Orlando de Andrade (cinegrafista da Agência Nacional); Vanderci Chagas de Aguiar (cinegrafista da Atlântida Cinematográfica); Mario Borgneth (SAv); Fabián Nuñez (UFF); Mauro Domingues (Arquivo Nacional); Débora Butruce (ABPA)
Data: 29 a 31 de outubro de 2014
Local: Auditório Principal do Arquivo Nacional
Endereço:  Praça da República, 173 – Rio de Janeiro, RJ
Entrada franca. Inscrições no local. Serão concedidos certificados.
Programação completa:
http://www.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=2186&sid=40

Minas Gerais

Oficina de Conservação Preventiva do Patrimônio Cultural Audiovisual (o evento faz parte da Mês do Patrimônio Cultural Audiovisual, que inclui as exposições “Olhar Inverso: Equipamentos Audiovisuais na Memória do Cinema” e “Tony Vieira – Um Cineasta Mineiro”)
Mês do Patrimônio Cultural Audiovisual
Data: 21 a 23 de outubro (terça a quinta), de 3h às 17h
Local: Centro de Referência Audiovisual - CRAV
Endereço: Avenida Álvares Cabral, 560 – Centro – Belo Horizonte – Minas Gerais

Bahia

Debate
Preservação da memória audiovisual: interfaces regionais de preservação (o evento faz parte da programação do X Panorama Internacional Coisa de Cinema)
Participantes:  Hernani Heffner (MAM/RJ), Laura Bezerra (ABPA), Adolfo Gomes (DIMAS) e Milene Gusmão (UESB).
Data: 31 de outubro de 2014, às 14hs.
Local: Espaço Itaú de Cinema – Glauber Rocha – sala 3
Endereço: Praça Castro Alves s/n – Centro – Salvador, BA
Maiores informações: http://coisadecinema.com.br/x_panorama/

Pará

Evento: II Semana da Preservação do Patrimônio Audiovisual (debates, palestras e oficina)
Participantes: José Maria Lopes (TV Cultura-SP); Deyse Marinho (Museóloga); Vanja Von Seck;  Kauê Lima; Acilon Cavalcante; Eduardo Souza (cineasta e Pesquisador); Flávio Nassar (UFPA 2.0); Cláudio Alfonso (Lab Livre); Ramiro Quaresma (Professor e Pesquisador); Vince Souza (Quadro a Quadro), Mateus Moura (APJCC) e Marco Antonio Moreira (APCA)
Data: 28 a 30 de outubro de 2014.
Local: TV Cultura e Lab Livre, do projeto UFPA 2.0.
Endereço: Laboratório Digital Livre – LabLivre –Travessa 3 de Maio - 1573, entre Magalhães Barata e Gentil Bittencourt.
Maiores informações: cinematecaparaense.wordpress.com, (91) 8239 2476 / ramiro.quaresma@gmail.com

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Oficinas do RECINE 2014

Nesta edição, o REcine oferece três oficinas técnicas durante a semana do festival. As inscrições estão abertas de 5 de outubro a 7 de novembro. As aulas acontecem na sede do Arquivo Nacional, na cidade do Rio de Janeiro (Praça da República, 173, Centro).

HISTÓRIA DO AUDIOVISUAL: DO CINEMA AOS JOGOS ELETRÔNICOS
Ementa: A história da linguagem audiovisual através de sua evolução tecnológica e estética. O audiovisual como registro documental, explorando suas possibilidades de comunicação, memória e identidade. A imagem em movimento como elemento histórico, político e cultural. Os novos caminhos do audiovisual.
Professores: Rafael de Luna, Lacy Barca, Marcelo Siqueira, Christiano Monteiro, Marco Fornaciari, Érica Nogueira e Marcelo Kosawa.
Data: 24 e 25 de novembro
Horário: 9h30 às 12h e 14h às 17h
Local: Miniauditório e Sala E-204
Vagas: 25

TRATAMENTO ARQUIVÍSTICO DE DOCUMENTOS AUDIOVISUAIS
Ementa: O documento audiovisual como documento arquivístico. Seu uso administrativo, cultural e histórico. O audiovisual e sua trajetória no campo da História, Comunicação Social, Arquivologia e demais ciências documentais. As teorias e práticas arquivísticas de gestão documental, arranjo e descrição de imagens. Indexação e recuperação da informação em documentos audiovisuais. Acesso, uso e difusão. Visita às áreas de trabalho e depósitos do Arquivo Nacional.
Professores: Marcelo Siqueira, Antonio Laurindo e Mariane Costa Pinto.
Data: 26 e 27 de novembro
Horário: 9h30 às 12h e 14h às 17h
Local: Miniauditório e Sala E-204
Vagas: 25

PRESERVAÇÃO AUDIOVISUAL
Ementa: História da preservação audiovisual. Políticas de preservação. Conservação preventiva e restauração. Diagnóstico, acondicionamento e guarda. Tipos de material. Identificação e características do suporte. Aulas teóricas e práticas.
Professores: Mauro Domingues, Antonio Gonçalves e Fátima Taranto.
Data: 27 e 28 de novembro
Horário: 9h30 às 12h e 14h às 17h
Local: Miniauditório e Sala E-205
Vagas: 12

Certificado de participação: serão emitidos aos participantes que tiverem pelo menos 75% de frequência.
Importante: O candidato deverá escolher apenas uma das oficinas, não sendo permitida a inscrição nas duas.
A divulgação dos selecionados será feita neste site: http://www.recine.com.br/2014/index.php

domingo, 13 de julho de 2014

Museus audiovisuais, parte 1 - Living Computer Museum, Seattle

Tão importante quanto preservar as imagens em movimento - isto é, as "obras", os "produtos", os "filmes" - é preservar o entorno dessas imagens. Isto é, os objetos, saberes e práticas que permitiram a realização e fruição dessas obras em sua diversidade e multiplicidade em cada contexto histórico. Tradicionalmente, as grandes cinematecas também se dedicaram a preservar, por exemplo, os equipamentos que caracterizariam uma história tecnológica do cinema. A Cinemateca Francesa, por exemplo, adquiriu em 1959 a extraordinária coleção do inglês Will Day - talvez a mais antiga do mundo -, com fantásticas câmeras, projetores, lanternas mágicas e outros aparatos cinematográficos e pré-cinematográficos. Esse acervo constitui hoje o grosso da exposição permanente da sede da Cinemateca Francesa.
Por outro lado, enquanto alguns arquivos mantiveram seu foco no "filme", ignorando o que seria o "não-fílmico", outras instituições passaram a contemplar através de uma abordagem museológica objetos que contariam a história tecnológica das imagens em movimento. A George Eastman House: International Museum of Photography and Film, por exemplo, divide suas coleções em "fotografia", "cinema" e "tecnologia", possuindo um dos mais fantásticos acervos do mundo. Esses arquivos constituem os hoje chamados "museus do cinema", algumas vezes ligados a Cinematecas, e outras vezes instituições independentes, sem arquivos de filmes. Uma das principais características desses museus é o fato de, quase sempre, seus acervos terem origem em colecionadores privados: ex-realizadores, ex-projecionistas, ex-exibidores ou apenas fãs e aficcionados.
Entretanto, se pensarmos "audiovisual" para além do "cinema", um museu teria que contemplar além de lanternas mágicas e câmeras, também computadores, hoje a principal ferramenta na produção, distribuição e exibição de imagens em movimento. Mas a histórica tecnológica recente, dos últimos 50 anos, marcada pela enorme velocidade da obsolescência dos equipamentos, às vezes é tão ou mais difícil de ser preservada do que a história do audiovisual, por exemplo, no século XIX.
Nesse viés, uma instituição muito interessante é o Living Computer Museum (LCM), na cidade de Seattle, EUA, que visitei no início deste ano. Sua localização não é casual, uma vez que Seattle é o lar da Microsoft, e o museu é uma iniciativa de Paul G. Allen, cofundador da empresa juntamente com Bill Gates. Nesse sentido, a característica apontada acima se repete, uma vez que o acervo do museu consiste em grande parte na coleção privada do próprio Allen, principal mantenedor da instituição que foi aberta ao público em 2012.
O LCM fica numa espécie de galpão, num prédio simples e feio que em nada se assemelha com as belas construções - quer históricas, quer modernas - onde geralmente os museus se instalam. A vizinhança da região portuária de Seattle onde ele se localiza também não tem nenhum atrativo, cercada de freeways com o intenso movimento de veículos do centro da cidade para os arredores e para o aeroporto, e vizinha do estádio do time local de soccer e futebol americano.
Na entrada do museu você tem a bilheteria e a lojinha, onde pega um elevador que sobe para o andar único onde fica a área de exposição. Em sintonia com a tendência dos museus de aproximar o visitante do acervo - característica também dos mais recentes museus de cinema, que incentivam a interação ao permitir  que as pessoas girem manivelas e olhem pelos visores dos equipamentos em exposição - o museu de Seattle apropriadamente tem a palavra "vivo" em seu nome. O grande destaque é o fato dos computadores em exposição estarem funcionando e poderem ser utilizados pelos visitantes. Como está escrito no site do LCM: "acreditamos que o melhor modo das pessoas realmente compreenderem os sistemas computacionais é experimentando-os. Somente o hardware não pode ilustrar como era utilizar essas máquinas. Software, informação e interação humana completam a experiência".

Ou seja, para além de uma mera exposição histórica dos diferentes modelos de computadores, das grandes máquinas dos anos 1960 e 1970 aos microcomputadores das décadas seguintes, os engenheiros do LCM focaram no principal problema de preservação: manter esses mesmos equipamentos ativos com seus programas originais! Assim, para além de ver como eram os computadores, o visitante pode sentar e interagir, realmente percebendo a trajetória do design e da interação, seja através dos gráficos, dos periféricos (tela, mouse, teclado etc.) e dos comandos. O museu não deixa de ser também um museu de videogames, uma vez que o computador passou a ter hegemonia de diversas ações e diversões cotidianas: escrever um texto, ouvir uma música e ver um filme, como também se entreter com jogos eletrônicos. O LCM permite, por exemplo, jogar Pac Man, jogo que se tornou ícone de uma década, no console original, possibilitando usufruir da experiência tal como ela era vivenciada há três décadas atrás, atingindo ao objetivo de um museu de realmente funcionar como um túnel do tempo. Ao invés de discos (CDs, DVDs), ou cassetes (há computadores em exposição que utilizavam fitas K7!), o Atari funcionava com cartuchos, numa lógica da munição de armas (pense num cartucho de fuzil, encaixado de forma semelhante), que talvez recorde da aproximação da computação com a tecnologia e a indústria bélica.

Quando eu visitei o museu, vi pessoas de várias idades, tanto adolescentes que provavelmente só ouviram falar e nunca tinham sequer encostado o dedo em computadores de mesa, praticamente obsoletos para uma geração de computadores exclusivamente portáteis, quanto pessoas mais velhas. A nostalgia também me atingiu quando pude jogar Wolf-3D num computador 386 idêntico ao que eu tive em casa. Esse jogo - célebre antecessor de Doom e outros jogos em primeira pessoa - foi um dos primeiros que eu instalei no meu PC na minha adolescência.
O LCM é também de grande interesse para os estudiosos do design, sendo fascinante perceber as mudanças tanto nos gráficos dos softwares (fontes usadas, ícones escolhidos) quanto no formato dos hardwares - por exemplo mais quadrados, tais como encontramos em ficções científicas como 2001 - uma odisséia no espaço.
Pensar os computadores sob o viés de uma "arqueologia das mídias", traçando as continuidades e descontinuidades de práticas de interação entre imagem e espectador ou de uma "história das telas" (screen history), também é algo muito interessante de se fazer ao visitar o museu.
O famosíssimo computador Xerox Alto, um dos primeiros "computadores pessoais" da história, lançado em 1973, virou, sem dúvidas, uma peça de museu, tendo sido produzido em escala de dezenas, e não de centenas ou milhares. É curioso perceber que o seu monitor era em formato de "retrato" e não de "paisagem" como viria a se consagrar. Isso seguia a lógica dos computadores substituírem as mesas de trabalho, fazendo o papel da máquina de escrever, da calculadora e do papel e caneta, enfim, do escritório (o Office), que viria a nomear o mais popular software da Microsoft. Nessa lógica da metáfora do escritório que resultou, inclusive, no sistema de "pastas", "escrivaninhas" e "arquivos" que orientou o Windows como sistema operacional, a tela do computador substituiria a folha de papel ofício, assim como o caderno (o notebook), sendo natural que ela tivesse essa mesma orientação que hoje nos parece estranha. Ao longo dos anos, os
computadores assumiram cada vez mais uma tela quadrada ou levemente retangular (semelhante à proporção 3x4 dos televisores da época), até, hoje em dia, praticamente se padronizar o formato panorâmico, claramente associado ao cinema pós-1950.
Em meio à área de exposição do museu, é possível ver, através da parede envidraçada, a área de trabalho dos engenheiros, reparando equipamentos doados ou se esforçando na árdua tarefa de fazer a manutenção dos computadores expostos e mantê-los em funcionamento. Para quem não puder visitar o museu, vale conhecer essa experiência através de seu site na internet.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Impressões sobre o 8K

Hoje fui assistir ao evento especial promovido pela Rede Globo e pela NHK (Japan Broadcasting Corporation - emissora televisiva estatal do Japão), durante a Copa do Mundo, de demonstração da tecnologia de exibição e transmissão em 8K, chamada de "Ultra High Definition".
Somente para situar o que é esse 8K, hoje o que chamamos de TV Digital no Brasil baseia-se na transmissão e exibição, pelos televisores, de imagem em Full HD ou HDTV (1920 x 1080 pixels). Nas salas de cinema, o padrão mínimo de cinema digital mundialmente é o 2K (2048 x 1080 pixels). Esse 2K nada mais é do que um termo genérico que designa uma resolução na ordem de 2 mil pixels. Entretanto, uma parcela dos cinemas já instalaram projetores 4K - no Brasil, a UCI começou a instalar os primeiros projetores no final de 2010, mas ainda são poucos em todo o país. 4K (4096 × 2160 pixels) designa o que seria o dobro da resolução do 2K, mas é difícil saber quais salas de cinema no Brasil tem 2K ou 4K, já que a divulgação é sobretudo se o filme é em 3D, IMAX (um sistema que abrange ainda uma tela maior) ou se a sala tem atendimento VIP.
Anúncio da Sony 4K nos estádios da Copa
Em relação à TV, ano passado a Sony começou a vender no Brasil suas primeiras televisões 4K e a Copa do Mundo de 2014 tem sido o palco de uma campanha agressiva da empresa japonesa para divulgar esse produto. Entretanto, a Copa de 2014 está sendo transmitida e assistida em grande parte do Brasil em Full HD. Em 4K, somente serão feitas transmissões experimentais.Quem comprar uma TV 4K, não vai assistir nada transmitido no Brasil nessa resolução.
Desse modo, os testes em 8K parecem e são mesmo apenas uma experiência, sem aparente previsão de massificação a curto prazo. Mas no planejamento otimista da NHK, em 2016, nas Olimpíadas do Rio, a empresa pretende fazer as primeiras transmissões experimentais em 8K e, em 2020, de fato televisionar a Olimpíadas de Tóquio nesse novo padrão.
O evento ao qual fui assistir consistiu na exibição de um filme de 30 minutos com imagem e som nesse padrão de Ultra Alta Definição, com filmagens de vários eventos: o desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro deste ano, um desfile de modas e um espetáculo de queima de fogos no Japão, trechos da final da Copa das Confederações de 2013 (Brasil x Espanha) e trechos de um jogo da Copa do Mundo que está ocorrendo no Brasil (no caso, do jogo de ontem Grécia x Japão).
Além da maior resolução de imagem, a tecnologia prevê a substituição do sistema de som multicanal (5.1 ou 6.1) por 22.2 canais de áudio. Esse sistema consiste em três faixas horizontais de alto-falantes atrás da tela, cada uma com 3 (mais baixo e mais alto) e 5 (meia altura) canais, além de dois grids de surround, a meia altura (5) e no teto (5 + 1, no centro do teto). Assim: tela (3 + 3 + 5)  e surround (5 + 6) resultam em 22 canais + 2 subwoofers = 22.2.
Os folhetos publicitários destacam as "imagens altamente realistas", a "imersão" do som, e os "impressionantes detalhes". Enfim, as mesmas qualidades que cada nova onda tecnológica apregoa ao longo da história, dos grandes formatos nos anos 1920 até a atualidade, passando pelas telas panorâmicas, pelo som estereofônico e pelas primeiras gerações do som e imagem digital.
A minha impressão pessoal dos filmes é de que se trata, sobretudo, de um ganho de resolução e nitidez. A progressão numérica (2K, 4K, 8K etc.) baseia-se em ter mais pixels na imagem. No início do filme, faz-se uma comparação entre o Full HD e o 8K, quando se mostra um plano geral de uma rua com pedestres. Ao enquadrar um trecho dentro da tela e fazer um zoom, a narração destaca como, nesse caso (no recorte de um detalhe da imagem), o Full HD fica sem nitidez, pixalado, enquanto no 8K não. Isso me parece significativo de que, o 8K, só provoca algum impacto num quadro geral ou num pequeno detalhe.
A escolha do que é mostrado no filme-teste é bastante significativa. No caso do carnaval e do desfile de moda, a opção é por planos gerais que revelem um número enorme de pessoas e detalhes (roupas, adereços, efeitos, texturas) - tudo sempre em foco para revelar a precisão dos detalhes. Nesse sentido, ao se abster do uso da profundidade, as imagens ficam absurdamente nítidas, mas com a impressão de serem chapadas.
Isso me provocou dois efeitos. Por um lado, o excesso desse "tudo-em-foco-e-muito nítido", me causou um certo desagrado. As imagens me pareceram confusas, desequilibradas. No caso do carnaval, outros detalhes desviavam minha atenção das alegorias, dos carros e dos passistas. Meu olhar ia para alguém sem camisa na plateia, para o cinegrafista que se destacava no meio do desfile, para uma pessoa de uniforme no camarote. O excesso de foco provocava uma falta de foco.
Por outro lado, alguns efeitos pareciam mais bonitos, como a chuva de papel picado prateado, que reluziam em todos os cantos da tela. Ou a enorme fumaça rosada e crescente de uma cena do lançamento de um foguete. Me lembrei, curiosamente, do texto de Jacques Aumont (Lumière, o "último pintor impressionista", do livro O Olho Interminável), quando o autor comenta os temas banais dos primeiros filmes do final do século XIX, e a reação dos primeiros espectadores fascinados com a realidade palpável de detalhes como o balançar das folhas pelo vento ou o marasmo do bater das ondas na areia. No caso do filme A Saída dos Operários da Fábrica Lumière (1895) a atração estaria na "generosidade visual" do movimento de inúmeras pessoas, todas diferentes e que não se repetiam. A abundância visual da realidade retratada na tela.
Enquanto alguns aspectos que me desagradam no digital não são solucionados pelo aumento de resolução - a textura da cor, por exemplo, continua fria e feia quando comparada com a película -, noto também esse efeito crescente do fascínio dos detalhes no plano geral.
Me lembrei do impacto que senti quando assisti à animação O corcunda de Notre Dame (1996) em seu lançamento nos cinemas. Esse filme é da primeira geração de desenhos da Disney que incorporava as ferramentas digitais e, na época, foi divulgado o quanto isso teria facilitado as cena gerais com muitos personagens se movendo individual e diferentemente em vários sentidos e velocidades. O número musical Topsy Turvy, por exemplo, abusa justamente das cenas de multidão numa festa popular, com direito até à chuva de papel picado. Até hoje, me parece, o grande avanço das animações (que incorporaram o digital em sua máxima potencialidade) foram no sentido do aparente realismo das texturas e detalhes (folhas de árvore, aparência de madeira ou tecido, pêlos de animais etc.) que, muitas vezes, contrastam com a artificialidade de outros personagens, objetos ou cenários.
Nas cenas dos jogos de futebol em 8K, porém, diferentemente das cenas de carnaval, havia o enquadramento de jogadores em plano americano, com o fundo (arquibancada) fora de foco. Nesses casos, minha atenção acabava indo para detalhes do próprio corpo em evidência: a nitidez do suor no rosto do jogador, na textura da camisa molhada, nos cabelo desarrumado. No campo do som, porém, a questão é menos a existência da tecnologia do que seu uso. Apesar dos 22.2 canais, o som quase todo me pareceu vir dos canais centrais da tela. Apenas na sequência dos fogos de artifício, que subiam aos céus, me chamou atenção o uso das caixas frontais superiores, dando a impressão do som se elevar ou vir de cima, mas, de forma geral, o sistema surround me parece muito pouco explorado frente ao que já ouvi em 5.1, por exemplo.
Nas cenas de futebol, apesar da adoção do mesmo enquadramento geral tradicional na transmissão televisiva, não havia narração, mas o som em "primeiro plano" de cada chute ou toque na bola. Apesar do propagado realismo, foi curioso notar o evidente artificialismo de escala, com a imagem distante, e o som em "close", talvez para aumentar a suposta imersão, mas que me deu a impressão de estar assistindo um vídeo-game. Curiosa essa influência de uma estética onde o avatar, mesmo quando distanciado e, logo, reduzido na imagem, quase sempre tem o som de seus movimentos e ações (socos, tiros, passos) amplificado e muito próximo e alto.
Após a projeção do filme, os técnicos japoneses, com a ajuda de uma intérprete, respondiam às perguntas da platéia. Juntando tudo isso, foi uma experiência muito interessante e que pode ser desfrutada por qualquer um, gratuitamente, até o dia 11 de julho,internet. Mais informações neste link: http://redeglobo.globo.com/globouniversidade/noticia/2014/05/experimente-nova-tecnologia-8k-tv-em-ultra-alta-definicao.html



sexta-feira, 6 de junho de 2014

Cultura, criatividade e o celulóide desaparecendo

"Culture, creativity and disappearing celluloid" é o nome de um vídeo-ensaio feito pelos professores Andrew Dawson (Universidade de Greenwich) e Sean P. Holes (Universidade de Brunel), que aborda o desaparecimento dos laboratórios cinematográficos na Inglaterra e a cultura, experiência e saberes que se vão junto.
Vale a pena ver. O curta-metragem de seis minutos pode ser visto aqui.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Curso A conversão para o cinema sonoro no Brasil

Curso que ministrarei no CineSesc, em São Paulo, no dia 14 de junho de 2014.
Mais informações e inscrição.

A conversão para o cinema sonoro no Brasil

A proposta deste minicurso é discutir a introdução do cinema sonoro no final dos anos 1920, num processo radical de mudança tecnológica, muito semelhante ao que vivenciamos atualmente com a conversão da película cinematográfica para o cinema digital. Longe de ter sido uma mudança súbita e imediata, como sugerem filmes de ficção como Cantando na chuva (1952) ou O artista (2011), a substituição dos filmes silenciosos pelos talking pictures foi um processo longo, conturbado e complexo.
Neste minicurso iremos apresentar informações e reflexões inéditas, resultantes do projeto de pesquisa “A conversão para o cinema sonoro no Brasil”, discutindo as transformações econômicas, estéticas, sociais e tecnológicas que o som impôs em como os filmes eram feitos, distribuídos, exibidos e apreciados pelo público. Iremos tratar especificamente como a mudança trazida por Hollywood afetou o Brasil e o nosso cinema, nossas salas de exibição e o público brasileiro.  

Carta de Ouro Preto 2014

Abaixo, o tradicional documento publicado pela Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA) ao fim de mais uma edição do Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais.

"Carta de Ouro Preto 2014

Os membros da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual – ABPA, reunidos no Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais por ocasião da 9ª Mostra de Cinema de Ouro Preto – CineOP, vêm a público indicar a urgência da construção de um Plano Nacional de Preservação Audiovisual, voltado para a salvaguarda dos acervos audiovisuais, a ser estabelecido como Plano Setorial do Sistema Nacional de Cultura, articulado com o Instituto Brasileiro de Museus, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o Sistema Setorial de Patrimônio, o Conselho Superior de Cinema, a Agência Nacional de Cinema, a Secretaria do Audiovisual, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, assim como com órgãos das esferas estaduais e municipais.

Para a construção desse Plano Nacional de Preservação Audiovisual, a ABPA busca a ampliação da interlocução com os órgãos responsáveis, reivindicando:
Assento para a ABPA no Conselho Superior de Cinema;
Assento para a ABPA no Conselho Consultivo da Secretaria do Audiovisual;
Reunião da ABPA com o Comitê Gestor do Fundo Setorial do Audiovisual.

A ABPA recomenda a ampliação do intercâmbio e da colaboração com arquivos audiovisuais da América Latina, Caribe e África, assim como a homologação pelo Governo Brasileiro da Recomendação para a Salvaguarda e Conservação das Imagens em Movimento da Unesco de 27 de outubro de 1980.

A ABPA, ao término da 9ª CineOP, testemunha o avanço significativo da área nos últimos anos, indo além do eixo Rio de Janeiro e São Paulo ao englobar um grande número de instituições detentoras de acervos audiovisuais de todo o país. Essa nova configuração está em sintonia com um cenário da política cultural governamental de investimento na democratização e territorialização.

Após oito anos de trabalho nos encontros da CineOP, fica cada vez mais claro que somente com a formação de uma rede de pessoas e instituições e sua articulação para alcançar objetivos comuns é que a preservação audiovisual se consolida como ação conjunta. A partir daí, reiteramos a urgência da construção de um plano efetivamente nacional de preservação audiovisual que abra novas áreas de atuação profissional e novos campos para estudos e pesquisas, fortalecendo assim cada uma das instituições atuantes no setor e assegurando a efetiva conservação dos acervos audiovisuais brasileiros.

A ABPA reafirma a Mostra de Cinema de Ouro Preto - CineOP como o fórum fundamental para a troca de experiências e formulação de ações relativas ao campo da preservação audiovisual.

Ouro Preto, 2 de junho de 2014.
Associação Brasileira de Preservação Audiovisual"

quinta-feira, 22 de maio de 2014

9 CineOP

Já está no ar a programação da Mostra de Cinema de Ouro Preto de 2014, que inclui a realização do Encontro Nacional de Arquivos Audiovisuais. O tema do encontro desse ano será "redes" e como diz o texto de apresentação, o evento contará "com a presença de representantes da África e da América Latina, de instituições como o INAC de Moçambique e a Red Unial de Cuba, cinematecas do Peru e do Uruguai, o Museu Del Cine da Argentina e a Coordinadora Latinoamerica de Archivos de Imágenes em Movimiento - CLAIM, além dos mais de 60 arquivos audiovisuais brasileiros e seus profissionais."
Serão apresentados também novas restaurações, incluindo a de um longo fragmento do filme "O Rei do Samba" (1952), de Luiz de Barros, filme tido como perdido, além do documentário "Miserias e grandesas de São José do Rio Preto", restaurado através de edital do Governo do Estado do Rio de Janeiro.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Guia de serviços e fornecedores

Uma boa dica para os profissionais da área de preservação é o AMIA Supplier Directory: A Global Directory of Services and Suppliers of Audiovisual Media, produzido pela Association of Moving Image Archivists, a principal organização profissional da área. O objetivo é servir como um guia internacional de serviços e fornecedores que sirva a qualquer pessoa trabalhando com mídias audiovisuais.
O diretório pode ser baixado aqui.


quinta-feira, 13 de março de 2014

Petição em defesa da preservação do passado do cinema alemão




Se os políticos continuarem a ignorar o avanço da decomposição química de nosso patrimônio cinematográfico, então, nos próximos anos, teremos de aceitar a perda da maioria dos nossos filmes do século passado. Sob custódia da burocracia estatal, os inestimáveis negativos originais analógicos e cópias únicas do nosso legado cinematográfico estão se degradando em silêncio, sem causar nenhuma repercussão, sem a chance de começarem uma nova vida. Na " Era da Reprodutibilidade Técnica " (Walter Benjamin ), a arte cinematográfica está correndo perigo de vida, porque muito do que dela sobreviveu já não pode mais ser reproduzido .

Além do celulóide à base de nitrato facilmente inflamável dos primeiros cinqüenta anos de cinema, as cinematecas estão preocupadas com as obras criadas em película de segurança à base de acetato desde os anos 1950 : longas-metragens em 35mm, filmes em 8 milímetros e 16 milímetros, negativos fotográficos, películas revestidas de fita magnética, microfilmes, bem como todos os negativos e cópias em preto e branco e a cores. Se, como é normalmente o caso, o material é armazenado em câmaras climatizadas com aparelhos rudimentares de ar-condicionado (a 20 º Celsius e 50% de umidade relativa do ar), ele só terá uma vida útil garantida de 44 anos. Abaixo dessas condições, conforme estabelecido pelo Image Permanence Institute ( Rochester , NY), começa uma zona de risco incalculável .

A imagem em movimento tem apenas uma vida em sua reprodução perpétua. Essa é a sua natureza. Uma única cópia original analógica ou digital de um filme está sempre em risco de destruição mecânica ou química ou de perda de dados. Temos que pensar de forma diferente: preservar as imagens em movimento significa reproduzi-las permanentemente nas melhores condições técnicas. Essa é a única garantia de que elas poderão fazer parte da memória nacional.

Para gerenciar a digitalização do nosso patrimônio cinematográfico , propomos a criação de um conselho de coordenação central da Deutsche Kinematheksverbund ( Rede de Cinematecas Alemãs ) . Tal conselho deve reunir a expertise existente nos arquivos de filmes alemães , preparar o processo de digitalização, e negociar os termos do contrato com as empresas comerciais de cinema e televisão . Esta difícil tarefa só pode ser assumida por todos os arquivos alemães juntos. Sem a estreita cooperação dos laboratórios cinematográficos ainda existentes e as empresas de finalização e pós-produção, este trabalho a ser feito não poderá ser levado a cabo. Porque quando o conhecimento sobre película ainda encontrado nesses locais não estiver mais disponível, aí sim a questão já estará encerrada de vez, por assim dizer .

Para a digitalização e copiagem de seu patrimônio cinematográfico, a França está gastando € 400.000.000  ao longo de seis anos. Na Alemanha, há apenas € 2.000.000 disponíveis anualmente para alguns poucos filmes muito conhecidos. Com o fim de evitar a iminente degradação de nossos acervos, um investimento de cerca de 500 milhões de euros até ao final desta década é necessário.

Exigimos uma iniciativa a nível federal para digitalizar todos os acervos cinematográficos ameaçados. Esperamos um compromisso financeiro confiável e substancial a partir do próximo governo federal. No futuro, a preservação de nosso patrimônio fílmico deve ser uma missão nacional. Este legado de imagens em movimento deve ser indelevelmente garantido, a fim de permanecer visível e acessível na era digital. O governo federal deve, portanto, fortalecer o Bundesarchiv - Filmarchiv ( Cinemateca Federal ) como o arquivo de filmes nacional alemão central, tanto por meio de financiamento direto quanto de recursos humanos, apoiando a digitalização de nosso legado cinematográfico através do estabelecimento de um fundo permanente . Vamos acompanhar atentamente para ver se as respectivas garantias do contrato Coalizão de 26 de novembro de 2013 serão seguidas por ações concretas.


Berlim, 26 de novembro de 2013

Jeanpaul Goergen ( historiador de cinema ) , o professor Helmut Herbst ( cineasta ) , o professor Dr. Klaus Kreimeier ( jornalista e estudioso das mídias)

Traduzido para o português por Rafael de Luna Freire a partir da versão em inglês de Jan-Christopher Horak e Evan Torner.

Nova empresa de preservação audiovisual

Marco Dreer, arquivista audiovisual, lançou o site de sua empresa, junto com outros profissionais, chamada Via 78, oferecendo serviços para imagem e som.
O trabalho da Via 78 pode ser conhecido em seu site.
Confiram também o blog da empresa, onde já estão sendo disponibilizados textos e artigos técnicos sobre o campo da preservação.