segunda-feira, 21 de maio de 2018

Canal Thomaz Farkas, uma bela iniciativa

Foi lançado dia 17 de maio de 2018 o Canal Thomaz Farkas, um site oficial acompanhado de uma página no vimeo. Apesar do interesse do site, que homenageia um grande fotógrafo e importante produtor do cinema brasileiro, trazendo informações, dados biográficos, entrevistas e imagens, até aí nada de novo dentre vários outros sites realizados por familiares de artistas. A novidade na iniciativa de Guilherme Farkas, neto de Thomaz e brilhante ex-aluno do curso de cinema da UFF, é o site estar acompanhado de um Canal Thomaz Farkas no vimeo onde estão disponibilizados, gratuitamente e em alta qualidade, todos os filmes produzidos pelo fotógrafo para visualização em streaming.
Farkas produziu, a partir dos anos 1960, documentários pioneiros no tratamento crítico sobre as mazelas da sociedade brasileira, sobretudo os quatro médias-metragens depois reunidos sob a forma do longa-metragem "Brasil verdade"(1964-1965). Como dizia o próprio título, os filmes traziam à tona cenários, temas e personagens da realidade brasileira que constumeiramente não eram tratados pelo cinema brasileiro até aquele momento.
Realizados por jovens intelectuais de esquerda e de classe média, esses filmes seriam, de certo modo, menosprezado por leitores do livro de Jean-Claude Bernardet, "Cineastas e imagens do povo". Publicado em 1985 e fruto das revisões críticas daquele contexto, o livro apontaria para as limitações na intenção de retratar o "outro de classe", explicando sua situação, através, por exemplo, de uma "voz do saber" expressa na narração em voz over.
Entretanto, os contextos mudam, e uma revisão desses filmes hoje resgata seu frescor e pioneirismo. Exibi recentemente "Subterrâneos do futebol" para meus alunos de 18, 19 e 20 anos, e foi impressionante o dialogo que ele estabelece com a geração que acompanhou a prisão de presidentes e ex-presidentes da CBF. Os filmes, com os anos, se reinventam e podem rejuvenescer.
Mas para isso, eles precisam estar acessíveis. O jovem Guilherme Farkas sabe disso e, como herdeiro, tomou um atitude rara e notável. Abrir o acervo, ao invés de restringir seu acesso. Oferecer as melhores cópias possíveis, ao invés de deixar o pesquisador ou cinéfilo refém de versões piratas de baixa qualidade no youtube ou torrents da vida. Certamente, esses filmes vão ser muito mais vistos a partir de agora do que o foram nos últimos anos, incentivando, inclusive, usos comerciais (exibições públicas, licenciamento de imagens etc) que ajudarão na manutenção do acervo. Filmes que não são vistos, são esquecidos, por mais que os herdeiros defendam (com razão) a importância histórica dessas obras.
Bom proveito: https://www.thomazfarkas.com e https://vimeo.com/canalthomazfarkas.

sábado, 28 de abril de 2018

Relato da visita ao Kodak Film Lab NY

Viajei para Nova Iorque há algumas semanas para apresentar um filme do LUPA-UFF no 11th Orphan Film Symposium, organizado pela New York University (NYU) e sediado no extraordinário Museum of the Moving Image, no Queens (bem ao lado do histórico Astoria Studios, construído pela Paramount nos anos 1920). O Orphan Film Symposium será o tema de um próximo post, pois este será sobre outro assunto. Dias antes do início do Orphan, o professor e pesquisador da NYU Dan Streible, idealizador e diretor do evento, convidou os participantes do simpósio que estivessem interessados para conhecer as instalações do Kodak Film Lab NY, muito próximo ao Museum of the Moving Image.
Secagem dos negativos
Os interessados foram muitos e acabamos sendo divididos em grupos, uma vez que o laboratório não era muito amplo. Fiz parte do primeiro grupo que se encontrou às 18h00 na frente de um prédio comercial no qual não havia portaria e nenhuma placa ou indicação de que a Kodak funcionasse lá.
Nesse primeiro momento já ficou clara uma característica que marcou toda a visita: o redimensionamento de escala da Kodak, outrora uma gigantesca multinacional que praticamente dominava o mercado mundial de fotografia, para uma empresa de muito menor porte que emergiu da recuperação do pedido de falência há poucos anos atrás.
Descobrimos que devíamos seguir por um longo corredor, passando pela porta de outros escritórios, até chegar ao Kodak Film Lab, onde fomos recebidos por dois simpáticos funcionários que foram nossos guias na visita. Novamente a impressão mencionada se repetiu, pois nosso guia principal, Bob Mastronardi, disse ter trabalhado na Kodak muitos anos, mas depois saiu da empresa (não lembro se mencionou ter sido demitido ou se pediu demissão), tendo retornado mais recentemente.
Segundo Bob nos explicou, o laboratório foi criado há menos de um ano, percebendo que não havia mais nenhuma empresa que realizasse processamento de negativo na região de Nova York, uma vez que a maioria dos laboratórios que ainda existem nos EUA ficam em outros estados. Assim, o Kodak Film Lab NY foi aberto, realizando exclusivamente revelação de negativos coloridos para os produtores, mas não processando cópias, o que é feito pela maior parte de seus clientes em outros laboratórios como a Colorlab. Para uma lista dos laboratórios existentes, vale a pena ver o diretório no próprio site da Kodak.
Os chassis para os negativos não revelados
Fomos levados, então, para ver o laboratório, passando pelo aposento escuro onde os negativos ainda não revelados são colocados nos chassis para serem levados a um das duas máquinas que o laboratório tem em funcionamento. Elas também são capazes de revelar negativos em 8mm e S-8mm a 70mm (na verdade, negativos 65mm, pois só a cópia, com a banda sonora, que é 70mm), mas atualmente eles atendem exclusivamente a 16mm e 35mm. Somente o laboratório da Kodak de Londres (reaberto também há poucos meses, assim como a terceira unidade, em Atlanta) revela 65mm, bitola que tem sido usada em superproduções de Quentin Taratino ou Christopher Nolan. Perguntei quem são os clientes que ainda levam negativos 16mm e me disse que são sobretudo produtores independentes. A maior parte de seus clientes, porém, são produtores de Hollwyood que ainda filmam em película (os cartazes nas paredes revelavam a identidade de seus últimos clientes, como The Post, de Steven Spielberg).
As químicas utilizadas na revelação
Pudemos ver de perto as máquinas e suas partes onde o filme é revelado, processado e depois secado. Nos explicou que anteriormente era muito difícil manter a química equilibrada, mas que atualmente eles já recebem os "ingredientes" em galões com as doses certas: basta misturar dois galões com a solução x com um galão da solução y. Notei que os galões tinham a etiqueta da Eastman Kodak e ele me dissem que eles eram produzidos pela Eastman Chemical, antiga subsidiária do grupo, que foi vendida posteriormente (e ele fez uma cara de que tinha sido um erro da empresa).
Sala de revisão, com limpadoras de ultrassom ao fundo
Vimos em seguida a sala de revisão dos negativos, onde também é avaliada a qualidade do processamento. Ali deu para entender melhor qual é o uso do 35mm pela indústria de cinema e porque surgiu essa demanda para a reabertura de um laboratório em Nova York. Como alguns cineastas ainda prezam a imagem obtida através da película cinematográfica, eles filmam em 35mm e enviam os negativos de câmera, o material bruto, para o laboratório, que revela e imediatamente digitaliza para enviar as imagens de volta para os produtores. Ou seja, tratam-se dos dailies - isto é, o material bruto que é visto pelos realizadores, conforme são feitos, para avaliar o andamento da filmagem.
Anteriormente, segundo nosso guia, a indústria digitalizava tudo já em 2K, mas, diante do tsunami digital que isso vinha provocando, atualmente o procedimento é outro. O negativo bruto é digitalizado em Full HD para visionamento e posterior montagem. Posteriormente, quando o filme já está montado digitalmente, solicita-se ao laboratório que digitalize, em 4K, somente os trechos do negativo em 35mm que serão usados.
O scanner Cintel
O Scanner que o laboratório usa é um Cintel, da Blackmagic, mesmo marca da hoje famosa câmera.
Nesse sentido, há um fluxo intenso entre o laboratório e os clientes, mas ele funciona através de um "escaninho" que cada cliente tem, com chave, onde ele deposita os negativos utilizados a cada dia de filmagem, recebendo depois, através geralmente de um HD Externo, os negativos digitalizados após serem revelados.
Foi uma visita muito esclarecedora, percebendo que, após o quase desaparecimento da película, ela voltou, numa dimensão pequena, mas aparentemente estável.
Meu colega de UFF João Luiz e eu ao fim da visita




terça-feira, 13 de março de 2018

LUPA

Há muito tempo que eu e o professor João Luiz Vieira, meu colega na Universidade Federal Fluminense (UFF), esboçamos o projeto do LUPA - Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual, que ganhou esse nome após algumas reuniões, quando e o prof. Fabián Núñez também se juntou a nós. Além de desenvolver as atividades de preservação do curso de cinema e audiovisual da UFF (há muito reconhecido como o principal espaço de formação para a área no Brasil), a ideia era superar o fosso que há muito afasta os arquivos de filmes e as universidades no Brasil. Uma iniciativa anterior importante nesse sentido foi a oficialização de um convênio entre o Departamento de Cinema e Vídeo da UFF e a Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, assinado em 2016, a partir da minha iniciativa como Chefe de Departamento.
O passo seguinte foi tirar o LUPA do papel, mesmo que sua futura sede, no prédio novo do IACS (Instituto de Arte e Comunicação Social da UFF), ainda em construção, continue no papel. 
Uma das premissas do LUPA era funcionar ainda como um arquivo regional temático, servindo como importante argumento na defesa de um sistema nacional de preservação descentralizado, que abarque diferentes instituições brasileiras, dos grandes arquivos nacionais (como a Cinemateca do MAM, Cinemateca Brasileira e Arquivo Nacional, membros brasileiros da FIAF) aos pequenos arquivos regionais (como pretende ser o LUPA e o são, por exemplo, os Museu da Imagem e do Som espalhados pelo país), trabalhando em conjunto, colaborando entre si e compartilhando responsabilidades. Decidimos que seu foco seria o cinema amador fluminense, restringindo nossas ações e interesses a um tipo de filme (aquelas obras realizadas sem perspectiva comercial, em bitolas e formatos semi ou não-profissionais) realizado no Estado do Rio de Janeiro que geralmente não recebe a devida atenção das grandes cinematecas.
A partir daí, começamos nosso trabalho de prospecção e conseguimos a doação de um lote de filmes amadores em 9,5mm, realizados entre os anos 1920 e 1940, no Estado do Rio de Janeiro. Através do convênio da UFF com o MAM, solicitamos através deste a digitalização desses materiais, da Coleção J. Nunes, na Cinemateca Brasileira. Foi a primeira vez que eles digitalizaram filmes em 9,5mm. Uma seleção desses materiais foi apresentada publicamente pela primeira vez na Cinemateca do MAM durante a I Jornada de Estudos em História do Cinema Brasileiro, organizado e sediado na UFF em agosto de 2017. Um desses materiais também será apresentado, em abril deste ano, no Orphans Film Symposium, em Nova York, representando a inserção internacional do LUPA.
A justificativa desse post, entretanto, é o lançamento do site do LUPA na internet e de sua página no facebook. Esperamos que sirva como a principal face pública do LUPA, dando acesso a nossas coleções, divulgando informações e materiais de pesquisa, e permitindo que todos aqueles interessados possam entrar em contato conosco. Que esse seja só o início de um longo caminho.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Filmar para ampliar 16/35mm

A Embrafilme publicou, através de seus departamentos culturais e não-comerciais, muitos materiais informativos ao longo dos anos. O folheto abaixo, intitulado "Filmar para ampliar 16/35mm: recomendações técnicas", foi publicado nos anos 1980, quando a empresa estava sob a direção de Roberto Parreiras, sendo uma tradução de original norte-americano. A tradução foi de Maria teresa Machado e a revisão técnica de Carlos Augusto Calil. Sua publicação no blog se deve ao valor histórico das informações.





quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Visitando a era dos games (museus audiovisuais - parte 2)

Os fliperamas que viraram símbolos da nostalgia
Dia 10 de janeiro deste ano, fui com Antônio, meu filho de 3 anos, à exposição A Era dos Games, no VillageMall, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Apesar de ser um evento num shopping center e tratar de videogames, é uma bela exposição organizada pelo Barbican, de Londres, que se transformou num enorme sucesso. Intitulada Game On e exposta pela primeira vez em 2002, desde então, vem sendo levada para diversos países. A exposição em cartaz no Rio é uma sequencia, Game On 2.0, resultado do enorme sucesso da primeira.
As maiores antiguidades que só nos são permitidas olhar
A exposição tem poucos painéis informativos e a contextualização da história dos jogos eletrônicos não é das mais completas. Mas isso importa pouco diante da principal atração e diferencial: a possibilidade dos visitantes viajarem no tempo ao poderem jogar livremente diversos games do passado em seus consoles originais. Isto é, experimentar softwares antigos em seus hardwares autênticos. Trata-se, sem dúvidas, da mais óbvia, mas ao mesmo tempo mais difícil e direta forma de permitir aos visitantes sentirem as diferenças e particularidades de jogos dos anos 1960 até os simuladores em 3D, passando pelo pinball, fliperama, Nintendo, entre vários outros. Cada pessoa, mesmo aquelas que nunca foram grandes jogadores, acaba fazendo também uma viagem pessoal pelo seu passado. No meu caso, do antigo Atari ao sucesso na minha adolescência de consoles como Master System (da Sega) ou Phantom System (ausente da exposição, pois nacional, fabricado pela Gradiente) até o sucesso enorme do PlayStation.
Meu filho Antônio, que quase nunca jogou videogames até hoje, adorou a exposição, como todas as outras crianças, querendo experimentar todos os jogos que ele podia.
Antônio num dos poucos jogos nacionais
A realização da Era do Games, que tem expostos muitos itens pertencentes a colecionadores particulares, é sem dúvida um grande feito em termos de apresentação de objetos museológicos. Afinal, uma das grandes dificuldades para a preservação de nosso passado recente audiovisual (no qual incluo os videogames) é a manutenção dos softwares e hardwares rapidamente tornados obsoletos pela indústria. Assim como ver um filme originalmente em película 35mm sendo projetado no seu suporte original é uma experiência radicalmente diferente de assisti-lo no celular numa versão compactada e pixalada, jogar um videogame no seu console original é algo cada vez mais caro, mas essencial na compreensão, inclusive estética, desse produto cultural. Hoje, na internet, é possível encontrar emuladores de muitos jogos antigos, mas sem dúvida a experiência de utilizar os controles originais (botões, alavancas, hastes etc) e não os modernos (teclado, mouse, touchscreen) é radicalmente distinta.
A exposição me lembrou muito minha visita ao Living Computer Museum, em Seattle, que já comentei neste blog. Entretanto, ela também me recordou da visita a um outro museu, que conheci nessa mesma viagem aos Estados Unidos, em 2014, o Museu Mecânico, de San Francisco. Para quem visita a famosa cidade californiana, ele claramente passa batido em meio ao cenário turístico do cais do porto, o Fisherman's Wharf. Mas vale a visita, pois é uma das maiores coleções privadas de arcades, peepshows ou máquinas de moedas (coin in the slot machines), como quer que as chamemos. Essas maravilhas mecânicas serviam, ao custo de uma moeda, para tocar músicas, fazer bonecos dançarem, adivinharem a sorte e, desde o final do século XIX, mostrarem um filme. Tanto o fonógrafo quanto o quinetoscópio de Edison (o primeiro aparato para a visão de filmes da História, ainda que individual, diferentemente do cinematógrafo dos Lumière), vinham dessa série cultural de divertimentos de feiras e parques de diversão. Além de muito divertido, esse museu que não deixa de chegar aos fliperamas, também permite, como na exposição A Era dos Games, experimentar e vivenciar equipamentos mecânicos, elétricos e eletrônicos originais. Sem dúvidas, é uma verdadeira viagem no tempo que apaixona qualquer pessoa interessada na origem do cinema e nos vários caminhos e circuitos que ele percorreu e ainda percorre.


Um fenaquistiscópio em exposição.

Visão geral com as várias máquinas num galpão

O cinema pornográfico surgiu e se desenvolveu sob a forma dos peepshows

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Reencontro com o cinema (dir. Rafael de Luna Freire, 2014)

Originalmente, o projeto que eu coordenei, "Resgate da obra cinematográfica de Gerson Tavares", financiado por um edital da Secretaria de Estado de Cultura do Governo do Rio de Janeiro, previa a gravação de uma entrevista com o diretor Gerson Tavares, cujos filmes eram o objeto do projeto.
Após sua aprovação, porém, o projeto foi reformulado e acabamos ficando mais ousados, decidindo ampliar a ideia de uma mera entrevista como "extra" do DVD a ser produzido e nos aventurando a fazer um curta-metragem, que veio a ser intitulado "Reencontro com o cinema"
Um pouco às pressas escrevi um roteiro em que misturava a história do cineasta Gerson Tavares e do filme a ser restaurado, "Antes, o verão" (1968), com a própria história do projeto, como ele surgiu e se desenvolveu. Assim, tentava discutir não só a origem e recepção do filme em seu contexto original, mas como ele quase tinha desaparecido posteriormente, quer simbolicamente (apagado da história), quer fisicamente (com a perda dos negativos e cópias). Curiosamente, o que seria um filme sobre um artista que descobriu o cinema e depois se afastou dele, acabou sendo também um filme bastante pessoal sobre meu encontro com esse filme e esse cineasta. Mais além, acabou sendo um filme sobre as cinematecas como locais de descobertas, buscando evidenciar o papel ativo que a exibição pode ter sobre a preservação. Afinal, como tentei mostrar no roteiro que escrevi, a restauração (e a sobrevivência) de "Antes, o verão" só foi possível graças a uma exibição, anos antes, numa sexta à noite para um público de meia dúzia de pessoas.
"Reencontro com o cinema" foi realizado em meados de 2014, sendo filmado em apenas três diárias, duas no Rio de Janeiro e uma em Cabo Frio, onde Gerson mora. Inicialmente ele estava um pouco receoso em filmar, pois tinha sofrido um derrame meses antes e ainda estava se recuperando. Por esse motivo, sua fala ainda estava um pouco prejudicada, conferindo-lhe uma aparência frágil aos 88 anos.
Apesar disso, Gerson ainda vive e acredito que está hoje melhor de saúde do que quando o filmamos. Infelizmente, outras pessoas se foram. Para contextualizar a restauração do filme, entrevistamos longamente Francisco Moreira, o Chico, em seu laboratório na Labocine. Meses depois o laboratório fechou e Chico migrou para a Cinecolor, em São Paulo. Creio que as nossas foram as últimas imagens em movimento feitas no local de trabalho do Chico onde ele restaurou dezenas de clássicos do cinema brasileiro. Mais triste ainda é o fato de que talvez tenha sido uma das últimas entrevistas do próprio Chico, que faleceu no início de 2016.
Gerson Tavares no filme "Reencontro com o cinema"
Outra perda, agora mais recente (neste mês), foi a de Carlos Heitor Cony. Autor do romance que Gerson Tavares adaptou para o cinema, nós o entrevistamos durante uma tarde inteiro em seu apartamento na Lagoa, onde nos recebeu gentilmente, falando não apenas de "Antes, o verão", mas de sua longa relação com o cinema e audiovisual, de crítico no Correio da Manhã a colaborador nas telenovelas da TV Manchete.
Embora não tenha sido entrevistado, o então curador da Cinemateca do MAM, Gilberto Santeiro, nos brindou com uma participação muito especial, fazendo figuração na sala de cinema da Cinemateca onde filmamos a sequencia que abre o filme. Gilberto também partiu, pouco menos de um ano depois de termos feito o curta-metragem.
Desde sua concepção, nunca pensei nesse filme como uma obra autônoma, mas como algo plenamente inserido no projeto que previa a restauração, digitalização e feitura de nova cópias de exibição para os longas e curtas-metragens do Gerson Tavares. Assim, "Reencontro com o cinema" foi exibido apenas uma vez solitariamente, tendo sido visto, em muito mais lugares, conjuntamente com a cópia restaurada de "Antes, o verão", como um típico complemento de sessão.
Esse foi o terceiro curta-metragem que eu dirigi, o primeiro após a faculdade, onde fiz meus dois curtas anteriores. Foi também minha primeira experiência com documentário, o que me deixou muito entusiasmado com as possibilidades de desenvolver minhas atividades de pesquisa histórica sobre o cinema brasileiro no formato audiovisual.
Já há algum tempo decidi disponibilizar "Reencontro com cinema" para livre visionamento na internet (com opção de legendas em português e inglês). O link está aqui.
Imagens e ficha técnica do filme podem ser encontradas no site do projeto.
Você pode ver ainda o vídeo do debate com Gerson Tavares após ele assistir, pela primeira vez, ao documentário "Reencontro com o cinema" e à versão restaurada de "Antes, o verão", no Cine Arte UFF, em Niterói, em 12/11/2015. Veja aqui