Eu pretendo, em breve, disponibilizar no blog os resultados dessa pesquisa que eu ainda estou desenvolvendo, mas destaco abaixo apenas um episódio recente (ocorrido mês passado) que ilustra como essas importantes fontes históricas, com dados fundamentais para a compreensão do cinema brasileiro e da atividade cinematográfica no Brasil, estão abandonadas e perdidas.
No excelente site Novo Milênio, em parte dedicado a Lendas e Memórias de Santos, encontrei transcrições do livro "História da Imprensa de Santos", do jornalista Olao Rodrigues, publicado em 1979. Na parte sobre revistas publicadas na cidade do litoral do Estado de São Paulo, há referência a duas publicações sobre cinema que me interessavam especialmente:
Filmlândia - 1928
Circulou a 6 de junho de 1928 o primeiro número de Filmlândia, dirigido por Norberto Paiva Magalhães. Como insinua seu título, era semanário que cuidava exclusivamente de atividades cinematográficas.
O segundo número circulou a 14 de julho de 1928, aparecendo uma semana depois o terceiro número, enquanto o 4º número também teve plena regularidade, distribuído a 28 de junho de 1928...
Norberto Paiva Magalhães foi sempre correto em seus compromissos jornalísticos, como sucedeu com Flama.
Fã Filme - 1929
Órgão de propaganda do Cine Paramount, Fã Filme começou a ser distribuído no início de 1929. No dia 23 de fevereiro de 1929 já estava no terceiro número.
Apresentava biografias e outras informações sobre artistas, propaganda de filmes e roteiro dos filmes que seriam exibidos no Cine Paramount. Essa casa de diversões era de propriedade de Scarpini & Vetró, sendo o responsável pelo jornal-folheto o sr. Jacinto Scarpini.
A existência da revista Filmlândia (não confundir com Filmelândia, publicada nos anos 1950 no Rio de Janeiro) era surpreendente, mas como estou pesquisando atualmente a passagem para o cinema sonoro no Brasil, a revista Fã Filme me parecia uma fonte fundamental, uma vez que o Cine Paramount de Santos foi o segundo cinema do Brasil a instalar um aparelho de projeção sonora nacional chamado Fitafone, em setembro de 1929. E vale lembrar que o Cine Paramount de São Paulo tinha feito, em abril desse ano, a primeira exibição do cinema sonoro no Brasil (e na América Latina).
Entretanto, como localizar essas duas revistas que foram consultadas pelo autor do livro nos anos 1970? Eu nunca tinha me deparado com nenhuma referência a elas nos arquivos do Rio e São Paulo e imaginei que provavelmente elas estariam em algum lugar de Santos. Aí começou minha investigação.
Primeiramente entrei em contato com o jornalista Carlos Pimentel Mendes, responsável pelo site, com quem eu já tinha trocado e-mails anteriormente. Novamente ele foi extremamente solícito e me deu algumas dicas de onde eu poderia localizar essas revistas.
Entrei em contato por telefone com esses arquivos (a Biblioteca da Sociedade Humanitária dos Empregados do Comércio, a Hemeroteca Roldão Mendes Rosa, Biblioteca Municipal Mário Faria, Museu da Imagem e do Som de Santos e Cinemateca de Santos), mas nenhum deles disse possuir essas duas revistas.
Na Fundação Arquivo e Memória de Santos, a bibliotecária Claudia Tarpani também disse não ter encontrado essas revistas no acervo e me sugeriu buscar no site das bibliotecas das universidades santistas: Universidade Santa Cecília (Não encontrei nada), Unimonte (idem), e Universidade Católica (que tem uma excelente acervo, mas não essas revistas).
Através da internet, localizei o artigo "Inventário dos jornais de Santos" e entrei em contato com um de seus autores, o professor Ivani Ribeiro da Silva. Ele disse ter pesquisado apenas jornais e, além das mesmas instituições que eu já tinha consultado, ele sugeriu tentar a Biblioteca da Faculdade de História da Unicamp (através de seu site não localizei nada sequer parecido) e a o acervo particular do autor do livro, Olao Rodrigues, já falecido.
Consegui o e-mail de Heliete Rodrigues Herrara, sua filha, que gentilmente me respondeu dizendo não ter mais nada de seu pai: "Tudo foi doado". Sugeria, então, que eu buscasse ajuda através do site... Novo Milênio.
Enfim, eu tinha dado uma volta completa e retornava ao ponto inicial.
Ainda não desisti de tentar localizar essas revistas (se alguém tiver alguma dica, agradeço), mas isso mostra como ainda temos muito o que descobrir e tentar salvar da história do cinema no Brasil.
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