O texto abaixo nada mais é do que um resumo do excelente artigo “Saving Star Wars: The Special Edition Restoration Process and its Changing Physicality”, de Michael Kaminski.
No início dos anos 1990, quando se aproximava os 20 anos do lançamento do então já mitológico Guerra nas Estrelas, seu diretor e produtores se reuniram para pensar o que poderia ser feito nessa data comemorativa.
Desde a estréia filme, em 1977, o seu extraordinário sucesso obrigou a feitura de milhares de cópias para lançamentos e relançamentos em todo o mundo. No sistema industrial de produção cinematográfica, os negativos originais (isto é, os negativo de câmera já editados) são protegidos através da feitura de “materiais intermediários”. Esse processo consiste em do negativo ser feito um interpositivo e dele um internegativo. A partir de um internegativo é feito um número limitado de cópias, antes do material se danificar pelo uso intenso. Quando um internegativo se “estraga”, volta-se somente ao interpositivo, protegendo, assim, os negativos originais que são pouco manipulados. Entretanto, em vários casos, quando se deseja cópias de alta qualidade, elas costumam ser feitas diretamente dos negativos originais (lembrando que quanto mais gerações, mesmo nos materiais intermediários de grão fino, menor a qualidade).
Além disso, dado o fenômeno que Guerra nas Estrelas se tornou, foi necessário fazer uma quantidade incomum de Interpositivos e Internegativos. Contraditoriamente, quanto mais sucesso comercial faz um filme, mais chances ele tem de seus materiais originais se deteriorarem dado o uso intenso.
O último interpositivo de Guerra nas estrelas fora feito em 1985 para dar origem a uma cópia nova (master) a ser usada para o lançamento do filme em vídeo. Assim, em 1994, quase dez anos depois, quando foram olhar os negativos originais viram que ele estava em péssimo estado.
É verdade que os materiais intermediários também poderiam ser usados, já que eles, a princípio, têm uma qualidade quase igual a dos negativos, mas para poupar tempo e dinheiro, eles tinham sido feitos com intermediário reversível. Reversível é o tipo de negativo que não dá origem a um positivo, mas ele se transforma em positivo (o filme reversível 16 mm, por exemplo, foi muito utilizado em TV e publicidade). E esses intermediários reversíveis estavam horríveis.
Além dos danos mecânicos dado o manuseio excessivo no laboratório, havia um outro problema com os negativos – sua cor.
Até os anos 1950, somente uma parcela da produção de Hollywood era colorida, já que o único sistema disponível era o caro e trabalhoso sistema Technicolor. Nessa década, a Kodak lançou seu negativo colorido tricapa, o Eastmancolor, tornando a realização de um filme colorido tão simples e barata quanto a de um filme em preto-e-branco. Entretanto, como só foi descoberto mais tarde, os negativos e cópias desses primeiros filmes coloridos com negativos Kodak desbotavam após poucos anos. Eles eram muito mais suscetíveis à ação do tempo do que os filmes P&B e mais até do que os realizados pelo Technicolor. Somente a partir dos protestos liderados pelo cineasta Martin Scorcese é que a Kodak admitiu o problema e trabalhou para solucioná-lo, lançando em 1983 um negativo “low fade”.
Mas Guerra nas Estrelas, filmado em 1977, ainda tinha usado um negativo pouco afeito à preservação.
De qualquer modo, esse novo lançamento do filme foi utilizado para que George Lucas finalmente pudesse ter a chance de fazer coisas no filme que não pudera trinta anos antes. O maior desejo era “melhorar” os efeitos especiais e somente as partes que iam receber efeitos digitais é que foram scaneadas em resolução 2K.
O resto do filme, que seria duplicado fotoquimicamente, também apresentava problemas, pois nas cenas que tinham efeitos óticos (como as lutas de sabre de luz), os grãos apareciam com destaque devido às copiagens em laboratórios. Portanto, foi necessário substituir pedaços do negativo original com trechos vindos dos negativos de separação de cor (YCM color separation). O próprio George Lucas tinha uma cópia technicolor de Guerra nas Estrelas guardada no porão da sua casa que serviu de referência nesse processo!
O som também foi radicalmente alterado, sendo remasterizado digitalmente.
Os trechos do filme com novos efeitos em CGI (como a cena anteriormente inexistente do diálogo entre Han Solo e Jabba, the Hut) foram colocadas no negativo da versão original. Isto é, o negativo da versão de 1977 foi desfeito e não mais existe tal como era.
Lançada em 1997, foi a “restauração” mais cara até então, tendo custado mais do que o filme original. O mais curioso – e trágico – é que todas as cópias antigas de Guerra nas Estrelas foram tiradas de circulação e destruídas, mantendo-se apenas as cópias másteres. Atualmente, as únicas cópias em película disponíveis para exibição são as dessa versão “especial”.
Tentou-se reescrever a história, tornando impossível, a partir de 1997, ver Guerra nas Estrelas tal como ele foi exibido nos vinte anos anteriores.
Eu, particularmente, vi Guerra nas Estrelas, que conhecia apenas da Sessão na Tarde da TV, no Cinema Niterói em 1997. Achei na época os efeitos digitais (sobretudo nas cenas finais, com a celebração em várias cidades alienígenas) bastante sem-graças. Hoje, acredito que eles parecem mais mal-feitos para as platéias atuais do que os efeitos óticos ou com bonecos das versões originais. O Yoda de borracha dos anos 1980 dá de mil no Yoda digital dos anos 2000.
Quem quiser saber ainda das questões envolvidas no lançamento do filme em DVD em 2004, leia a continuação do artigo citado.
Um comentário:
Agradeço por ter criado esse artigo, não posso concordar nem contradize-lo, pois só vi os filmes depois de 2009 então só posso imaginar a partir de comentários e depoimentos como devem ter sido os efeitos originais. Mas concordo que os efeitos práticos, os animatronicos revestidos de borracha l, eram muito mais "bonitos" que o CGI forçado de hoje em dia
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