terça-feira, 22 de outubro de 2013

Dia Mundial do Patrimônio Audiovisual no Arquivo Nacional




Dia Mundial do Patrimônio Audiovisual

Em 27 de outubro acontece o Dia Mundial do Patrimônio Audiovisual, comemoração aprovada pela Conferência Geral da UNESCO, em 2005, como forma de chamar a atenção para a necessidade da adoção de medidas urgentes que permitam a conservação dos arquivos audiovisuais no mundo inteiro, e da importância destes arquivos para a construção integral da identidade cultural das nações.

De forma a comemorar esta data, em consonância com a orientação da Federação Internacional de Filmes de Arquivo (FIAF), da qual o Arquivo Nacional é membro, é proposto para os dias 29 e 30 de outubro o evento "Fitas Videomagnéticas em Debate", com a previsão de duas mesas redondas no dia 29 de outubro, quando serão apresentados relatos de experiências de produção de vídeos e a importância das videolocadoras na formação de público. Uma conferência, no dia 30, abordará a evolução da tecnologia audiovisual e a importância da preservação dos registros e uma mesa redonda encerrará o evento apresentando os aspectos históricos do uso das fitas videomagnéticas na televisão brasileira.



Programação
 
29/10 manhã
10:00 horas
 
Abertura
Maria Izabel de Oliveira - Coordenadora-Geral de Gestão de Documentos – Representante da Direção-Geral do Arquivo Nacional
 
Representantes de canais TV e internet para falar sobre a produção de vídeos e a necessidade de preservação dos conteúdos.
 
TV Pinel
 
Filó - Cultne (Acervo Digital da Cultura Negra)
 
Antonio Laurindo (mediação) - Arquivo Nacional
 
 
29/10 tarde
14:00 horas
 
Produção de filmes e a importância das videolocadoras na formação de público
 
Carlos Vinícius- Cavídeo
 
José Marques - Videoteca UFF
 
Marcelo Siqueira (mediação) - Arquivo Nacional
 
 
30/10 manhã
10:00 horas
 
 
Conferência sobre a evolução da tecnologia audiovisual e a importância da preservação dos registros que foram gravados em fitas videomagnéticas.
 
Rafael de Luna - Professor da Universidade Federal Fluminense
 
Mauro Domingues (mediação) – Arquivo Nacional
 
 
30/10 tarde
 
14:00 horas
Acervos de televisão
 
Lacy Barca - Empresa Brasil de Comunicação (EBC)
 
Simone Costa - Globosat
 
Jaqueline Benites Marques – MultiRio
 
Carlos Eduardo Marconi (mediação) – Arquivo Nacional
 
Exibição de filmes e programas de TV.
Capítulo da novela “A viagem”, Programa do Chacrinha e filme surpresa.
 
 
Será emitido certificado para quem tiver 75% de presença confirmada no evento.
Supervisão da Área de Imagens em Movimento
CODAC / COPRA
Arquivo Nacional
(21) 2179-1270
http://www.arquivonacional.gov.br
 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Relatório sobre o formato de preservação dos filmes do curso de cinema e audiovisual da UFF

Este relatório foi produzido a partir da criação da Comissão de Preservação do Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense e movido por mais dúvidas do que certezas. Espero que seja útil para outras pessoas e que fomente mais discussão e colaborações.


RELATÓRIO SOBRE O FORMATO DE PRESERVAÇÃO DOS FILMES DO CURSO DE CINEMA E AUDIOVISUAL DA UFF.

Prof. Rafael de Luna Freire, 10 de junho de 2013.

INTRODUÇÃO
No dia 28 de maio de 2013, reuniram-se os professores Rafael de Luna Freire, Fernando Morais, Cezar Migliorin e Fabián Nuñez para tratar de um projeto de preservação dos filmes realizados pelos alunos do curso.
Entre outras questões, permaneceu a dúvida sobre quais seriam os padrões a serem exigidos para o arquivo a ser entregue com a versão final das produções para UFF a serem preservadas como matrizes digitais.
Uma questão que se colocou naquele momento seria a se o codec h.264 poderia ser definido como o padrão estabelecido. Fiquei encarregado de realizar uma pesquisa a esse respeito e o resultado dela está nesse relatório.

AVALIAÇÕES SOBRE CODEC E FORMATO DE ARQUIVO
Expus as minhas dúvidas em relação ao formato dos arquivos dos filmes da UFF a serem utilizados como matrizes de preservação e recebi vários comentários na lista da AMIA (Association of Moving Image Archivists). Informei que estávamos pensando em padronizar a entrega dos arquivos no codec h.264 e perguntei o que os membros da lista achavam disso. Houve um produtivo debate, mas grande divergência de opiniões e sugestões.
Apesar de ser muito utilizado, Peter Oreckinto sugeriu ficar longe do h.264 por utilizar alta compressão. Segundo Rod Butler, no National Film and Sound Archive (Austrália), esse codec não é utilizado para fins de preservação. Apesar de ser possível criar arquivos h.264 sem compressão, isso é raramente é feito. O arquivo australiano utiliza JPEG2000, com bit rate variável (50 e 100 MB/s). Esses arquivos são encapsulados em .MFX e as trilhas sonoras digitalizadas em .WAV. É importante lembrar que esse arquivo lida com longas-metragens, sendo a cinemateca nacional da Austrália.
Já Andrea Dunlap (Makani Power) disse estar tendo bons resultados com filmes em h.264, por ser um codec comum, o que lhe permitirá no futuro ter muitas opções para ler os arquivos.
Leo Enticknap, do Institute of Communications Studies, lembrou que o ideal é ter a menor mudança possível entre o material feito e o material preservado. O formato do arquivo vai depender do formato de origem. Leo disse que seus estudantes geralmente fazem seus projetos finais em câmeras DSLRs conectados por HDMI em gravadores HDD que salvam o material bruto em arquivos h.264. A pós-produção é feita geralmente em combinação de Avid Media Composer e Adobe After Effects. No momento eles pedem o arquivo final em Blu-Ray, mas os alunos também podem entregar os resultados em outros formatos (DVD, DCDM ou DCP) se for necessário para inscrição em festivais.
Portanto, há muitas opções para a escolha do formato, variando de algumas que vão consumir muito espaço, mas de maior qualidade e que são mais seguras de um ponto de vista do software (por exemplo, AVI sem compressão), para algumas que são menores, mas cuja qualidade da imagem e da compatibilidade do software são comprometidas (p.e. uma imagem ISO de Blu-Ray).
Diante da minha observação de que não produzimos tantos filmes por ano e que o volume de dados a serem armazenados não seria nosso principal problema, Leo Enticknap respondeu que optando pelo AVI sem-compressão haveria duas vantagens: não introduzir “ruídos digitais” resultantes da transcodificação de dois formatos de vídeo comprimidos, e porque seu arquivo não seria comprimido usando um codec proprietário. Desse modo, à princípio você estaria mais protegido no futuro.
O maior problema com arquivos não comprimidos é o seu tamanho. Para NTSC em RGB não comprimido, isso seria algo em torno de 110GB por hora, que pode chegar a quase 1TB em resolução 1980p. O h.264, embora vastamente utilizado, necessita de um software proprietário para codificar e decodificar, e utiliza grande compressão.
Por fim, Leo recomenda que talvez o melhor seja fazer uma matemática de qual é o volume de dados que seriam gerados usando tanto arquivos não-comprimidos quanto h.264 (com um perfil, nível e bitrate adequados para o seu uso), e avaliar os custos do sua mídia preferida para armazenamento, tendo em conta os gastos regulares para testes e migrações de mídia que serão necessários dali em diante.
Dave Rice escreveu esclarecendo que o h.264 pode ser usado com ou sem compressão. Certamente o h.264 comprimido é mais utilizado, mas ele pode ser encodado com padrões iguais aos do JPEG2000, FFV1, HUFFYUV e outros codecs sem compressão. E embora o h.264 seja proprietário, o software para codificado e decodifica-lo não precisa ser (um deles é o x264, lançado com licença do GPL GNU).
Para fins de esclarecimento, Josef Marc lembrou que a escolha de um codec (como h.264) é inútil se o formato de arquivo (wrapper) se tornar ilegível. O SMPTE sugere o .MXF e .AXF. A Apple possui o .MOV. A Microsoft meio que possui o .AVI.
O codec controla a qualidade do vídeo. O formato (wrapper) controla a legibilidade.
Ele lembrou que o h.264 é a alternativa mais comum hoje em dia a outros sem-compressão, como JPEG2000, ProRes, DPX, DNxHD etc.
Sua opção pessoal seria o ffmpeg-jpeg2000-mxf. Ou seja, FFMPEG como software, JPEG2000 como codec, e .MXF como formato.
Sua opção seguinte seria HEVC (software), h.264 (codec), .MXF (formato).
Jim Lindner defendeu o formato AVI por ser utilizado pelo National Archives and Records Administration (NARA), e por ser um dos primeiros formatos de vídeo popularizados de graça por uma grande empresa (Microsoft) e por muito provavelmente ainda poder ser lido daqui a 20 ou 40 anos.
Lindner lembrou que diferentemente do formato (que não afeta o audiovisual em si), o codec está relacionado com ele, mas não com o formato que o encapsula. Segundo ele, só existem 6 codecs de vídeo sem-compressão atualmente: Uncompressed (mais comum); JPEG2000 (DCI e Library of Congress); ffmpeg vc-1 (fonte nova e aberta); H.264 lossless profiles (rara); AVC-Intra (mais rara); Dirac (BBC/mais rara ainda).

NO BRASIL
Ao enviar o mesmo e-mail para a lista da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA), Marco Dreer apontou que essa questão foi muito debatida nos encontros internacionais que ele participou. Afirmou que:

 “O MJPEG2000 em tese é o formato mais recomendável, principalmente pelo fato de operar uma compressão lossless (sem perda). No entanto, ainda que seja um formato aberto e ISO, ele é pouco amigável, requer investimentos altos em hardware e software, não sendo possível rodá-lo em plataformas mais baratas e populares. Isso gerou um grande debate no congresso, porque, se por um lado a Library of Congress defendia a adoção do MJPEG2000 (encapsulado em um arquivo MXF), as instituições menores (incluindo a minha, na ocasião) argumentavam que essa era uma solução fora da realidade da ampla maioria dos arquivos, em função dos investimentos necessários.”

Eduardo Paiva, da Unicamp, afirmou que em sua instituição eles armazenam a versão final em h.264, mas a edição é feita no formato nativo .MOV ou .AVI. “Editar em h.264, mesmo com a conversão do adobe ou do final cut, acaba por ser muito demorado.”
Marco Dreer já havia apontado que:
o h.264 não costuma ser o codec ideal para edição, eventualmente precisando ser convertido (é o que acontece na plataforma Final Cut, por exemplo). Mas se for somente para armazenar o material final, já editado, o h.264 talvez seja o codec mais adequado mesmo, para o caso da UFF.”
Marco lembrou que além do codec, deve-se estabelecer o “formato de arquivo” (wrapper) (AVI, MOV, MPEG, MXF etc.), uma taxa de bits fixa (que determina a qualidade do arquivo de vídeo), além de um esquema mínimo de metadados.
Ariane Cristina Gervásio informou que na TV UFMG os arquivos digitais são armazenados em  formato .MP4 ( H.264 - NTSC DV Alta Qualidade ) 

OS FILMES DA UFF
Diante dessas questões, achei que as definições a respeito do padrão final de entrega dos arquivos só poderia ser feita conhecendo melhor os formatos utilizados durante o processo de produção. Agradeço às respostas dos professores Nina, Isaac, Moreno e Cezar ao questionário que enviei. Suas respostas foram condensadas abaixo.
Nas produções da UFF, as câmeras mais utilizadas são Canon 5-D Mark II, que filma em 1920x1080, em 24 ou 30 fps. O formato nativo dela é .MOV e o compressor é o h.264.
Outras câmeras utilizadas são a Canon T3i e Sony HVX-200, embora muitos alunos usem suas próprias câmeras HDSRL.
A maior parte dos filmes usam cartão Compact Flash/h.264. Outras utilizam cartão SD classe 10, cartão P2, e fitas DVCPRO.
Além do .MOV, outro formato recorrente é .MP4.
Os filmes são editados em Final Cut e Adobe Premiere. Conforme Isaac, “no caso do Final Cut é preciso que os arquivos nativos sejam convertidos para outro formato, geralmente .MPEG2 - o Premiere faz leitura de .MOV sem conversão. A finalização, no entanto, pode variar, mas a tendência é que eles sejam exportados em HD 1920x1080 utilizando o h.264, o arquivo de saída pode ser também o .MPEG2 ou .AVI.”
Segundo Cezar, os arquivos são geralmente exportados em .MPEG4 h.264 e .MOV.
Sobre o envio para seleção, os festivais recomendam e aceitam os mais diferentes formatos, dependendo do padrão de exibição.
Conforme Moreno, para os festivais que ele envia, os filmes são mandados para seleção em .AVI legendados. Para exibição, a cópia pode ser em Blu-Ray ou Betacam digital ou analógica. “Outros ainda deixam a opção de enviar em formato de DVCam, DCP, Blu-ray e HDCAM.”

CONCLUSÃO
Acredito que seja preciso levar as questões acima em consideração e que a definição sobre o padrão a ser adotada seja tomada por um grupo amplo de professores e funcionários, uma vez que a melhor opção sobre uma decisão tão difícil é dividir as responsabilidades sobre ela.
Creio que esse relatório pode ser enviado a profissionais da indústria cinematográfica e de tecnologia da informação para que eles também possam opinar sobre as nossas opções.