quinta-feira, 13 de março de 2014

Petição em defesa da preservação do passado do cinema alemão




Se os políticos continuarem a ignorar o avanço da decomposição química de nosso patrimônio cinematográfico, então, nos próximos anos, teremos de aceitar a perda da maioria dos nossos filmes do século passado. Sob custódia da burocracia estatal, os inestimáveis negativos originais analógicos e cópias únicas do nosso legado cinematográfico estão se degradando em silêncio, sem causar nenhuma repercussão, sem a chance de começarem uma nova vida. Na " Era da Reprodutibilidade Técnica " (Walter Benjamin ), a arte cinematográfica está correndo perigo de vida, porque muito do que dela sobreviveu já não pode mais ser reproduzido .

Além do celulóide à base de nitrato facilmente inflamável dos primeiros cinqüenta anos de cinema, as cinematecas estão preocupadas com as obras criadas em película de segurança à base de acetato desde os anos 1950 : longas-metragens em 35mm, filmes em 8 milímetros e 16 milímetros, negativos fotográficos, películas revestidas de fita magnética, microfilmes, bem como todos os negativos e cópias em preto e branco e a cores. Se, como é normalmente o caso, o material é armazenado em câmaras climatizadas com aparelhos rudimentares de ar-condicionado (a 20 º Celsius e 50% de umidade relativa do ar), ele só terá uma vida útil garantida de 44 anos. Abaixo dessas condições, conforme estabelecido pelo Image Permanence Institute ( Rochester , NY), começa uma zona de risco incalculável .

A imagem em movimento tem apenas uma vida em sua reprodução perpétua. Essa é a sua natureza. Uma única cópia original analógica ou digital de um filme está sempre em risco de destruição mecânica ou química ou de perda de dados. Temos que pensar de forma diferente: preservar as imagens em movimento significa reproduzi-las permanentemente nas melhores condições técnicas. Essa é a única garantia de que elas poderão fazer parte da memória nacional.

Para gerenciar a digitalização do nosso patrimônio cinematográfico , propomos a criação de um conselho de coordenação central da Deutsche Kinematheksverbund ( Rede de Cinematecas Alemãs ) . Tal conselho deve reunir a expertise existente nos arquivos de filmes alemães , preparar o processo de digitalização, e negociar os termos do contrato com as empresas comerciais de cinema e televisão . Esta difícil tarefa só pode ser assumida por todos os arquivos alemães juntos. Sem a estreita cooperação dos laboratórios cinematográficos ainda existentes e as empresas de finalização e pós-produção, este trabalho a ser feito não poderá ser levado a cabo. Porque quando o conhecimento sobre película ainda encontrado nesses locais não estiver mais disponível, aí sim a questão já estará encerrada de vez, por assim dizer .

Para a digitalização e copiagem de seu patrimônio cinematográfico, a França está gastando € 400.000.000  ao longo de seis anos. Na Alemanha, há apenas € 2.000.000 disponíveis anualmente para alguns poucos filmes muito conhecidos. Com o fim de evitar a iminente degradação de nossos acervos, um investimento de cerca de 500 milhões de euros até ao final desta década é necessário.

Exigimos uma iniciativa a nível federal para digitalizar todos os acervos cinematográficos ameaçados. Esperamos um compromisso financeiro confiável e substancial a partir do próximo governo federal. No futuro, a preservação de nosso patrimônio fílmico deve ser uma missão nacional. Este legado de imagens em movimento deve ser indelevelmente garantido, a fim de permanecer visível e acessível na era digital. O governo federal deve, portanto, fortalecer o Bundesarchiv - Filmarchiv ( Cinemateca Federal ) como o arquivo de filmes nacional alemão central, tanto por meio de financiamento direto quanto de recursos humanos, apoiando a digitalização de nosso legado cinematográfico através do estabelecimento de um fundo permanente . Vamos acompanhar atentamente para ver se as respectivas garantias do contrato Coalizão de 26 de novembro de 2013 serão seguidas por ações concretas.


Berlim, 26 de novembro de 2013

Jeanpaul Goergen ( historiador de cinema ) , o professor Helmut Herbst ( cineasta ) , o professor Dr. Klaus Kreimeier ( jornalista e estudioso das mídias)

Traduzido para o português por Rafael de Luna Freire a partir da versão em inglês de Jan-Christopher Horak e Evan Torner.

Nova empresa de preservação audiovisual

Marco Dreer, arquivista audiovisual, lançou o site de sua empresa, junto com outros profissionais, chamada Via 78, oferecendo serviços para imagem e som.
O trabalho da Via 78 pode ser conhecido em seu site.
Confiram também o blog da empresa, onde já estão sendo disponibilizados textos e artigos técnicos sobre o campo da preservação.