terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Acervo do Tempo Glauber vai para Cinemateca Brasileira

Eu já tinha ouvido essa informação na semana passada, mas parece que ela já chegou à imprensa. Como saiu no Diário do Pará, "O acervo pessoal do cineasta baiano Glauber Rocha, atualmente arquivado no Tempo Glauber, fundação criada pela sua família, no Rio de Janeiro, está prestes a ser adquirido pelo Ministério da Cultura e será transportado para a Cinemateca Brasileira, em São Paulo".
Já me disseram que era besteira eu ficar "queimando bandeiras" por conta de uma situação aparentemente irreversível, mas não consigo deixar de comentar o quadro atual, que é o seguinte: Qualquer interessado na história do cinema brasileiro que quiser pesquisar o acervo do ator e diretor carioca Raul Roulien, nascido no Rio de Janeiro e uma das figuras mais importantes de nosso cinema nos anos 1930 e 1940 terá que ir à São Paulo. Se o pesquisador preferir estudar as chanchadas cariocas e particularmente o principal estúdio associado ao gênero, a Atlântida, terá que consultar o acervo atualmente em São Paulo. Por fim, se a opção for pelo cineasta baiano, radicado no Rio de Janeiro, que se tornou o principal expoente do Cinema Novo, o mesmo pesquisador terá que, mais uma vez, tomar o rumo de São Paulo a partir de agora.
Posso ser acusado de bairrista. É, talvez seja besteira se preocupar com isso, pois se formos ler a Veja Rio de algumas semanas atrás, a situação do mercado de cinema em nosso Estado é maravilhosa. Tropa de Elite II bate recordes de bilheteria, os vampiros da saga Crepúsculo vêm sugar o sangue de cariocas e os astros decadentes da série Velozes e Furiosos fazem seus "pegas" na ponte Rio-Niterói. Se a juventude gloriosa da Zona Sul está contente, por que se preocupar com papéis velhos, de filmes brasileiros velhos. O governo do Estado do Rio de Janeiro também está muito mais contente em alardear o sucesso de produções realizadas na cidade maravilhosa, mesmo que a Secretaria de Cultura do Estado ou do Município não tenham nada a ver com isso. O Estado tem a futura sede do MIS em Copacabana para se gabar, ainda que o projeto seja de mais um típico museu "digital", isto é, ao invés de acervo (além do que sobrou do MIS depois de anos de descaso), teremos dezenas de telas LCD... Afinal, é a marca da grife de museus da Fundação Roberto Marinho, que depois de ganhar uma boa grana em São Paulo, está investindo no mercado museológico do Rio...
Enquanto isso, em São Paulo, um eficiente dono de botequim faz a festa no campo da preservação audiovisual com o apoio entusiasmado do Governo Federal. A lógica é a do comerciante: compra-se no atacado (de preferência acervos de instituições endividadas ou de estúdios interessados em se livrar do problema) e vende-se no varejo. O pesquisador que precisar de uma imagem digitalizada ou alguns minutos de imagens em movimento vai sentir no bolso. Mas, afinal, quem está preocupado com isso?