quinta-feira, 28 de junho de 2012

Resultados do CineOP

O Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais realizados durante a Mostra de Cinema de Ouro Preto teve bons resultados. Além da qualidade da apresentação dos convidados internacionais (da Itália, México e EUA), as mesas de debate foram extremamente interessantes, com discussões acirradas, inclusive.
A Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA) teve uma nova diretoria eleita para um mandato de dois anos, sendo composta por:
Presidente: Hernani Heffner (Cinemateca do MAM, RJ)
Vice: Carlos Roberto de Souza (UFSCar, SP)
Tesoureiro: Ines Aisengart (RioFilme, RJ)
Secretário-geral: Fausto Correa (Cinemateca Catarinense, SC)
Diretoria de Relações Institucionais: Laura Bezerra (UFBA, BA)
Diretoria de Formação: Fabián Nuñez (UFF, RJ)
Diretoria Técnica: Rafael de Luna (UFF, RJ).

Ao final do encontro, foi elaborada a CARTA DE OURO PRETO 2012:

As entidades e os profissionais de preservação audiovisual, a comunidade acadêmica de cinema, audiovisual, arquivologia e educação, e os demais participantes do Encontro de Acervos e Arquivos Audiovisuais Brasileiros, realizado na 7ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, no período de 20 a 25 de junho de 2012, vêm através deste documento reafirmar seu compromisso com o patrimônio audiovisual brasileiro, sua preservação e difusão junto à sociedade brasileira e mundial.
Entendendo a preservação audiovisual como um dos instrumentos mais importantes de nosso tempo para a construção da cidadania e da cultura, os presentes ao Encontro trocaram informações, perspectivas, pontos de vista e experiências que mais uma vez indicaram a importância deste Fórum e o valor da participação democrática como ferramenta para uma sociedade justa e culturalmente desenvolvida.
O Encontro abordou questões das mais variadas ordens e dimensões que indicaram mais uma vez como inadiável a formulação de um Plano Nacional de Preservação Audiovisual. Desdobrando este objetivo em ações mais imediatas, seus participantes propõem o estreitamento das relações entre o setor e diferentes instâncias de mediação e execução de tarefas de preservação audiovisual, em nível nacional e internacional.
Entre as medidas mais significativas e urgentes estão:
- a abertura de um diálogo franco e democrático com o poder público brasileiro, visando a formulação conjunta de ações que atendam as instituições, os acervos e o acesso a eles, dentro de um marco de cultura democrática que perpassa a sociedade brasileira atual;
- a formalização do campo da preservação audiovisual como um saber específico, uma profissão particular – iniciando a luta pelo reconhecimento da categoria junto às instâncias reguladoras do trabalho no País – e uma ação necessária à constituição do patrimônio cultural brasileiro;
- a promoção de uma formação técnica e acadêmica sistematizada, completa e contínua, como requisito a um aumento da qualidade dos serviços de preservação audiovisual, ao trabalho realizado dentro de parâmetros éticos e profissionais rigorosos e à difusão de uma cultura brasileira da preservação audiovisual de natureza plural e democrática;
- e o estreitamento das relações e ações mútuas com o campo da educação, refletindo a inserção do audiovisual na vida cotidiana dos cidadãos, em especial crianças e jovens, a apresentação regular de obras audiovisuais na escola e a necessidade de formulação de políticas e práticas adequadas de uso desse conteúdo como elemento formador do sujeito e da cidadania, ressaltando-se a função da preservação audiovisual dentro desse processo.
O Encontro reforça ainda o apoio à manutenção do tombamento do Cinema Excelsior de Juiz de Fora, MG, endossando a mobilização para sua preservação, dentro de um marco que não descaracterize sua origem como espaço dedicado ao audiovisual, sem prejuízo de novas atividades culturais. 
Reitera também a necessidade de conclusão do projeto de constituição e abertura da Cinemateca Capitólio de Porto Alegre, RS, como espaço de preservação do patrimônio audiovisual gaúcho e brasileiro.
Os profissionais da preservação audiovisual, assim como os demais cidadãos comprometidos com a preservação do patrimônio audiovisual brasileiro, presentes à 7ª CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto, ressaltam a importância, a continuidade e a promoção anual do Encontro, espaço fundamental para troca de ideias e formulação de ações, e o compromisso com a salvaguarda e difusão da obra audiovisual brasileira de qualquer época, suporte e origem.

Ouro Preto, 25 de junho de 2012.

domingo, 17 de junho de 2012

Caroline Frick no 7º Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros


A CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto inicia, nesta quinta-feira, o 7º  Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros. Tradicional espaço de discussão sobre a preservação audiovisual no Brasil, este encontro marca o retorno de Hernani Heffner à curadoria do evento, tendo como destaque a presença de renomados convidados internacionais.
Um dos principais nomes é o da professora e preservadora Caroline Frick, autora do extraordinário livro Saving Cinema: The Politics of Preservation (Oxford University Press, 2011). Seu trabalho, com um viés histórico, busca repensar a teoria e o método de preservação cinematográfica. A autora aponta a transformação do "arquivo" num tópico quente nas universidades como parte de um fenômeno acadêmico recente. Mas constata também a crença atual no senso comum do valor da preservação audiovisual. Indicando algo claramente perceptível nas edições do próprio Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais na CineOP, Frick escreve: “O refrão mais comum é que o filme tem um valor inerente como patrimônio cultural”.
Mas o que ela mostra, de forma brilhante, em seu livro, é como a preservação audiovisual não é algo natural ou lógico, mas constitui-se num discurso construído e evocado em épocas determinadas por pessoas específicas com interesses particulares. Crítica da postura centralizadora das grandes cinematecas nacionais que, através da FIAF, se apropriaram do discurso da Unesco tentando restringir a criação e o desenvolvimento de pequenos arquivos regionais, a própria Frick é uma das fundadoras do Texas Archive of the Moving Image. Este pequeno arquivo é dedicado tanto a filmes de Hollywood e do exterior com imagens sobre o Texas, quanto a filmes familiares e industriais, produção televisiva regional e produtos dos cine-clubes locais.
Nem é preciso dizer como suas idéias são importantes como contribuição para o debate sobre a situação da preservação audiovisual no Brasil.

Abaixo a programação do evento. Mais informações em http://www.cineop.com.br/

SEMINÁRIO
DIÁLOGOS DO AUDIOVISUAL
Data: 21/06 | quinta
Hora: de 16h às 18h30
Local: AUDITÓRIO I - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Programação direcionada aos participantes do Encontro Nacional de Arquivos
1ª reunião de trabalho dos participantes do Encontro Nacional de Arquivos
Coordenação: Diretoria ABPA
- Apresentação de relatório de atividades da ABPA 2011/2012
- Breve relato da pauta e dinâmica das reuniões de trabalho

ABERTURA OFICIAL DO SEMINÁRIO E DO 7º ENCONTRO NACIONAL DE ARQUIVOS E ACERVOS AUDIOVISUAIS BRASILEIROS
Data: 22/06 | sexta
Hora: de 09h30 às 11h
Local: AUDITÓRIO I - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Programação aberta ao público e aos participantes do Encontro Nacional de Arquivos.

PRESERVAÇÃO AUDIOVISUAL: PANORAMA ATUAL
Data: 22/06 | sexta
Hora: de 09h30 às 11h
Local: AUDITÓRIO I - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Quais as políticas públicas, critérios e procedimentos gerenciais para a manutenção e acesso público aos acervos e arquivos no âmbito da preservação audiovisual?
Convidados:
- Ana Paula Santana – Secretária do Audiovisual – Ministério da Cultura – DF
- Carlos Magalhães - Diretor Executivo da Cinemateca Brasileira - SP
- Marília Franco – Presidente da Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA)– SP
- Patrícia di Filippi - Diretora e Coordenadora do Laboratório de Imagem e Som da Cinemateca Brasileira - SP
- Regina Celie Simões Marques – Responsável pelos arquivos históricos da CAM/CGSIM/IBRAM - DF
Mediador: Rafael de Luna – pesquisador e professor – UFF - RJ

GUSTAVO DAHL E A PRESERVAÇÃO AUDIOVISUAL
Data: 22/06 | sexta
Hora: de 11h15 às 13h
Local: AUDITÓRIO I - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
- Exibição de trechos de entrevista de Gustavo Dahl, ao pesquisador Arthur Autran para o filme “A política do cinema”
Duas das três grandes perplexidades e impossibilidades vividas por Gustavo Dahl (as “facadas” como denominou) estão associadas ao mundo da preservação audiovisual. A primeira dizia respeito ao tempo que passou na Cinemateca Brasileira em sua juventude, ao lado de Jean-Claude Bernardet e Paulo Emílio Sales Gomes. A segunda referia-se ao desmonte do sistema carioca de preservação audiovisual ocorrido no início do século XXI, época em que voltou a se engajar na área, à frente do Centro Técnico Audiovisual, onde trabalhou com Débora Butruce, do Conselho da Cinemateca Brasileira, onde conviveu com Arthur Autran, tendo com ele redigido o novo estatuto desta instituição. Conhecer o que o angustiava então e agora pode iluminar os desafios e soluções da eterna “caveira de burro da área”, segundo sua expressão.
Convidados:
- Arthur Autran – Professor e Pesquisador da UFSCAR – SP
- André Gatti – Professor e Pesquisador - SP
- Débora Butruce – Coordenadora do Acervo Audiovisual CTAv - RJ
- Geraldo Veloso - Cineasta - MG
Mediador: Daniel Caetano – crítico de cinema – RJ

WORKSHOP - INFRA-ESTRUTURA DE PRESERVAÇÃO AUDIOVISUAL DIGITAL E ALTERNATIVAS DE BAIXO CUSTO
Data: 22/06 | sexta
Hora: de 14h30 às 16h30
Local: AUDITÓRIO I - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Programação aberta ao público
A construção de um documento digital, quer ele provenha de processo de migração analógicos ou eletrônicos, tornou-se um dos maiores desafios para a manutenção dos arquivos audiovisuais em um futuro muito próximo. Quais habilidades e formação são necessários para a produção e gerenciamento deste tipo de documento? O que fazer com os suportes de base? Como manter a tecnologia acessória funcionando para todas as gerações de uma obra audiovisual?
Convidada Internacional

- Francesca Angelucci – Responsável dell´Ufficio Archivio Filmico al Centro Sperimentale di Cinematografia - Cineteca Nazionale de Italia - ITALIA
Mediador: Marco Dreer – Conservador Audiovisual do Circo Voador – RJ

OS GÊNEROS DOS IRMÃOS FARIAS
Data: 22/06 | sexta
Hora: de 15h às 17h30
Local: AUDITÓRIO II - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Programação aberta ao público.
Os irmãos Roberto Farias e Reginaldo Faria começaram na direção em momentos distintos. Que discursos críticos, legitimadores ou questionadores cercaram a recepção das obras dos irmãos Farias no exato momento de seus lançamentos, sobretudo nos anos 1960 e 1970, quando parte expressiva do cinema brasileiro foi pautada por visões politizadas da própria estética cinematográfica e, em segundo momento, levou em conta a necessidade de expandir sua circulação e seu alcance discursivo? Como estes filmes, fora do contexto original, permanecem em nossas percepções, ou se reinventam nesta mudança de contexto?
Convidados:
- João Luiz Vieira – pesquisador e professor UFF  – RJ
-  Reginaldo Faria – Cineasta e ator homenageado - RJ
- Roberto Farias – Cineasta homenageado - RJ
Mediador: Francis Vogner dos Reis - jornalista e crítico de cinema - SP

DIÁLOGOS DA EDUCAÇÃO
Data: 22/06 | sexta
Hora: de 17h às 19h
Local: AUDITÓRIO II - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Programação direcionada aos participantes da Rede Kino

 IV Fórum da REDE KINO (Rede Latinoamericana de Educação, Cinema e Audiovisual)
1ª Reunião de trabalho dos integrantes da Rede Kino
- Apresentação do site da Rede
- Principais ações da Rede entre junho 2011 e junho 2012
- Relatos de Experiência Cinema-Escola

Coordenação: Adriana Fresquet e Milene Gusmão – coordenadoras da Rede Kino

DIÁLOGOS DO AUDIOVISUAL
Data: 22/06 | sexta
Hora: de 17h às 19h
Local: AUDITÓRIO I - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Programação direcionada aos participantes do Encontro Nacional de Arquivos
2ª reunião de trabalho dos participantes do Encontro Nacional de Arquivos
Coordenação: Diretoria ABPA
- Apresentação de relatório de atividades da ABPA 2011/2012

WORKSHOP - ESTRATÉGIAS DE MIGRAÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL
Data: 23/06 | sábado
Hora: de 10h às 12h30
Local: AUDITÓRIO I - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Programação aberta ao público 
A simples migração de suportes foto-químicos e eletrônicos revelou-se insuficiente pela falta de padrões rígidos de controle técnico, pela rápida transformação das tecnologias de informação, pela inexistência de fundos financeiros permanentes e pela impossibilidade de preservação de todo o conjunto de criação e apresentação da obra audiovisual. Quais estratégias se impõem no momento em que o volume de produção aumenta e a obsolescência se torna cada vez mais rápida? o que é construir uma nova base física de trabalho a esta altura?
Convidado Internacional
- Carlos Edgar Torres Pérez – Subdirector de  Preservacion de Acervos Cineteca Nacional de Mexico - MEXICO
Mediador: Fabrício Felice – Coordenador de Pesquisa e Documentação do MAM – RJ

WORKSHOP - O IMPACTO DO DIGITAL NA PRESERVAÇÃO AUDIOVISUAL
Data: 23/06 | sábado
Hora: de 14h30 às 16h30
Local: AUDITÓRIO I - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Programação aberta ao público e aos participantes do Encontro Nacional de Arquivos
A transição da era da película para a era do digital. Em relevo a excepcionalidade do novo momento para a preservação audiovisual. Ao contrário das transformações tecnológicas anteriores surge agora uma quebra de paradigma e um questionamento radical: manter a infra-estrutura do passado e a relação com tal experiência ou migrar para um novo modus-operandi? Como trabalhar a informação neste novo contexto?
Convidado Internacional
Caroline Frick – Presidente da AMIA - The Association of Moving Image Archivists, Fundadora e Diretora do Texas Archive of the Moving Image e Professora da University of Texas, em Austin - EUA
Mediador: Carlos Roberto de Souza – Professor e pesquisador da UFSCAR - SP

DEBATE - CINEMA E AUDIOVISUAL COMO PRÁTICA SOCIAL
Data: 23/06 | sábado
Hora: de 15h às 17h30
Local: AUDITÓRIO II - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Programação aberta ao público
Esta mesa reúne reflexões ancoradas em trajetórias e práticas sociais de cinema que abrangem distintas experiências, diversos modus operandi  e locus de realização, desde as ações que estão vinculadas às Universidades e Cinematecas até as que se estruturam a partir das Produtoras Independentes.
Convidados:
- Hernani Heffner – Conservador Chefe da Cinemateca do MAM – RJ
- João Alegria – Gerente de Programação do Canal Futura – SP
- Milene Gusmão – Janela Indiscreta Cine-Vídeo Uesb - BA
- Orlando Senna – Cineasta – Projeto Irradiar – RJ
Mediadora: Rosália Duarte - professora PUC- Rio e Rede Kino - RJ

DIÁLOGOS DO AUDIOVISUAL
Data: 23/06 | sábado
Hora: de 16h às 19h
Local: AUDITÓRIO II - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Programação direcionada aos participantes do Encontro Nacional de Arquivos
3ª reunião de trabalho dos participantes do Encontro Nacional de Arquivos
Coordenação: Diretoria ABPA

O CINEMA BRASILEIRO E A EDUCAÇÃO
Data: 24/06 | domingo
Hora: de 10h às 12h30
Local: AUDITÓRIO II - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Programação aberta ao público e aos participantes do Encontro Nacional de Arquivos e do Forum da Rede Kino
Esta mesa se propõe debater e problematizar a lei Cristóvão Buarque em diálogo tanto com projetos em andamento que já ensaiam a letra da lei nas suas atividades quanto com representantes de outras instituições diretamente vinculadas à temática.
Convidados:
- Adriana Fresquet – Programa CINEAD/UFRJ - RJ
- Cezar Migliorin - Professor e pesquisador - UFF/RJ
- Cristovam Buarque - Senador/Autor do Projeto de Lei nº 7507/2010 (a confirmar) - DF
- Maria Dora Genis Mourão - Presidente da Forcine e da Sociedade Amigos da Cinemateca - SP
- Simone Monteiro - Projeto Cineclubes nas Escolas – Secretaria de Educação – RJ
Mediadora: Inês Teixeira – Professora da Rede Kino MG

STUDY CASE – LONGA “A MULHER DE LONGE”
Data: 24/06 | domingo
Hora: de 10h às 11h15
Local: AUDITÓRIO I - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Diálogos do audiovisual– programação aberta ao público
Relatos sobre a pesquisa e experiência de produção do filme que utiliza fragmentos e imagens de arquivo restauradas
Convidados:
- Ernesto Stock – restaurador Cinemateca Brasileira - SP
- Luiz Carlos Lacerda – diretor - RJ
Mediador: Cássio Starling Carlos – jornalista e crítico de cinema - SP

STUDY CASE – LONGA “DINO CAZZOLLA – UMA FILMOGRAFIA DE BRASÍLIA”
Data: 24/06 | domingo
Hora: de 11h30 às 12h30
Local: AUDITÓRIO I - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Diálogos do audiovisual – programação aberta ao público
Relatos sobre a pesquisa e experiência de produção do filme que utiliza fragmentos e imagens de arquivo restauradas
Convidados:
- Andrea Prates – diretora - RJ
- Cleisson Vidal – diretor  SP
Mediador: Cássio Starling Carlos – jornalista e crítico de cinema - SP

FOTO OFICIAL - ENCONTRO DE ARQUIVOS / REDE KINO
Data: 24/06 | domingo
Hora: de 12h45 às 13h
Local: HALL - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Foto Oficial dos participantes do 7º Encontro Nacional de Arquivos e da Rede Kino

FORMAÇÃO DE TÉCNICOS DE PRESERVAÇÃO AUDIOVISUAL NO BRASIL
Data: 24/06 | domingo
Hora: de 14h30 às 16h30
Local: AUDITÓRIO I - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Programação aberta ao público e aos participantes do Encontro Nacional de Arquivos.
Ao estabelecer a disciplina de Preservação Audiovisual junto ao crescente número de cursos de cinema e audiovisual no país, a diretriz curricular para a área sinalizou uma demanda ainda não atendida de fato pelas instituições de ensino superior. Quais os desafios, importância e impacto dessa formação para o setor?
Convidados:
- Eduardo Paiva – diretor da RTV Unicamp e Forcine – SP
- Fernanda Coelho –  técnica de Conservação da Cinemateca Brasileira – SP
- Natália de Castro Soares – conservadora Audiovisual - RJ
- Teder Muniz Moras – coordenador do Centro de Documentação da TV Cultura - SP
Mediador: Fabian Nunez – Professor UFF - RJ

DIÁLOGOS DA EDUCAÇÃO
Data: 24/06 | domingo
Hora: de 15h às 17h30
Local: AUDITÓRIO II - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Programação direcionada aos participantes da Rede Kino
IV Fórum da REDE KINO (Rede Latinoamericana de Educação, Cinema e Audiovisual)
2ª Reunião de trabalho dos integrantes da Rede Kino
- Relatos de experiência Cinema-Educação
- Elaboração e aprovação da Carta de Ouro Preto
Coordenação: Milene Gusmão e Adriana Fresquet – coordenadoras da Rede Kino

CONVOCATÓRIA
Data: 24/06 | domingo
Hora: de 17h às 19h
Local: AUDITÓRIO I - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Programação direcionada aos participantes do Encontro Nacional de Arquivos.
Assembleia Geral Extraordinária da ABPA para votação do Regimento Interno

NOVOS ESPAÇOS DE PRESERVAÇÃO AUDIOVISUAL
Data: 25/06 | segunda
Hora: de 10h30 às 12h30
Local: AUDITÓRIO I - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Programação aberta ao público e aos participantes do Encontro Nacional de Arquivos
A crescente proposição de novos arquivos audiovisuais em estados tão distintos como Bahia e Amazonas, Rio Grande do Sul e Pernambuco, indica a existência de acervos antigos e novos a demandar tratamento técnico e inserção cultural junto a comunidade local. Alguns projetos são antigos, outros recentes. Quais os empecilhos para sua implantação? Qual o impacto junto ao esforço global de preservação audiovisual brasileiro? A descentralização é o caminho?
Convidados:
- Fernanda Elisa Costa – Pesquisadora e Coordenadora do Acervo Fílmico da Puc-Goiás - GO
- Laura Bezerra - Pesquisadora da UFBA - BA
- Luiz Joaquim - jornalista e crítico de cinema - PE
- Maria Angélica dos Santos – Responsável pelo acervo de filmes da Cinemateca Capitólio – RS
Mediador: Hernani Heffner – Conservador Chefe da Cinemateca do MAM - RJ

CONVOCATÓRIA
Data: 25/06 | segunda
Hora: de 14h às 17h30
Local: AUDITÓRIO I - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Programação direcionada aos participantes do Encontro Nacional de Arquivos
Assembleia Geral Ordinária da ABPA para efetivar o que determina o Estatuto no art. 12, incisos I, II, III, IV, VI, X e XI

WORKSHOP - O CINEMA, O CINECLUBE E A CINEMATECA: POSSIBILIDADES DE FORMAÇÃO AUDIOVISUAL DENTRO E FORA DA ESCOLA
Data: 25/06 | segunda
Hora: de 14h30 às 17h
Local: AUDITÓRIO II - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Programação aberta ao público
Convidado internacional:
Alain Bergala - Cineasta - FRANÇA
Mediadora: Adriana Fresquet – Programa CINEAD/UFRJ - RJ

DIÁLOGOS DO AUDIOVISUAL
Data: 25/06 | segunda
Hora: de 17h às 18h
Local: AUDITÓRIO I - 2º ANDAR - CENTRO CONVENÇÕES
Programação direcionada aos participantes do Encontro Nacional de Arquivos
- Resoluções finais do 7º Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais Brasileiros
- Elaboração da Carta de Ouro Preto 2012 – documento oficial
- Encerramento das atividades do 7º Seminário do Cinema Brasileiro: fatos e memória e do 7º Encontro Nacional de Arquivos

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Subsídios para uma história recente da Cinemateca do MAM - parte 1

Primeira parte de texto escrito por Rafael de Luna Freire (jun. 2012)

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ) nasceu como entidade civil em 1948, tendo funcionado a partir de 1952 num mezanino do edifício do Ministério da Educação e Saúde, que funcionava no Palácio Gustavo Capanema. As obras para a construção da sede do MAM no Aterro do Flamengo só começaram em 1954, mas já no ano seguinte foi criado o Departamento de Cinema do museu. Ainda em 1955 se iniciaram as sessões de filmes promovidas pelo MAM, então realizadas no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), na Rua Araújo Porto-Alegre, n.71. Em 1957, o setor transformou-se oficialmente em Cinemateca, dando início às atividades de guarda de filmes e criando uma biblioteca e um setor de documentação e pesquisa.
A primeira parte do MAM que foi construída – o chamado Bloco Escola, onde hoje funciona a Cinemateca – foi inaugurada somente em 1958 e nesse mesmo ano o museu já pôde sediar os eventos sociais (abertura e coquetéis) e a exposição (que incluía uma estatueta original do Oscar, entre outros objetos) da histórica mostra História do Cinema Americano, ainda que as sessões de filmes tenham continuado a ocorrer em salas de cinema em outros locais da cidade. Os festivais se sucederam, a programação de filmes se intensificou ao longo dos anos 1960, e a Cinemateca passou a programar diversas salas de cinemas de arte do Rio de Janeiro, incluindo o Cine Paissandu, a partir de 1965, dando origem ao que ficou conhecida como a “geração Paissandu”.
O Bloco de Exposições do MAM (a parte principal do museu), cuja construção se iniciou em 1956, foi concluído somente em 1967 e a Cinemateca finalmente ganhou uma sala própria de projeção, no terceiro andar do museu, que hoje funciona apenas como local de exposição.
Tanto por sua programação de filmes e consolidação como local de encontro, debate e reflexão sobre cinema na cidade do Rio de Janeiro, como por sua participação efetiva na produção e finalização de diversas produções de longas e curtas-metragens, assim como pelo apoio fundamental a mostras, festivais e cineclubes, a Cinemateca construiu uma forte imagem junto ao meio cinematográfico e ao público cinéfilo nas décadas de 1960 e 1970.
Em julho de 1978, o MAM foi atingido por um trágico incêndio, mas a Cinemateca, em si, sofreu poucos danos. Ainda assim, sua atividade externa foi reduzida e os esforços se voltaram para sua reestruturação interna, visando a ordenação e melhoria de guarda de seu acervo. Mesmo assim, em debate realizado em 1979, Carlos Augusto Calil, então Diretor de Operações Não-Comerciais da Embrafilme, reconhecia que “todas as pessoas que mexem com cinema e que estão interessadas por cinema, que militam em cinema de alguma forma aqui no Rio, passaram por lá, foram conquistadas e sensibilizadas pela Cinemateca do MAM” (Cinemateca Imaginária: Cinema & Memória. Rio de Janeiro: Embrafilme, 1981, p. 47).
As instalações da Cinemateca foram transferidas para o Bloco Escola e, somente em 1987, após uma série de reformas, foi inaugurado o atual auditório, em funcionamento até hoje, sendo retomada a programação.
***
Tudo isso é História, já relatada em alguns (poucos) livros, filmes, dissertações e artigos de jornal. Entretanto, a história recente da Cinemateca, escrita por diversas pessoas, ainda não foi registrada para a posteridade. Em sintonia com o sentido de urgência dos preservadores de conservar a memória do presente para que no futuro nosso passado não esteja perdido, busco relatar alguns fatos e acontecimentos que se relacionam não apenas à Cinemateca, mas à história da Preservação audiovisual no Brasil de forma mais ampla. Como um dos personagens desse relato, tomo a liberdade de assumir um tom pessoal, inevitável para quem fez parte dessa história.
***
Em meados dos anos 1990, ainda adolescente, estive pela primeira vez na Cinemateca do MAM para assistir ao filme de Truffaut Jules e Jim. Morando em Niterói, costumava freqüentar as salas do Estação Icaraí (antigo Cinema 1) e do Cine-Arte UFF, além dos cinemas de rua que a cidade ainda tinha, como o Windsor, o Icaraí e o Cine Center no meu bairro, e os amplos, mas já decadentes Central e Niterói, no centro. Aliás, todos eles se encontram fechados atualmente.
Naquela época, a Cinemateca ainda gozava de relativo prestígio, com sua sala equipada com as características cadeiras modernas (e barulhentas) de madeira e couro assinadas por Sérgio Bernardes, o bistrô e o piano em sua entrada, a programação de filmes clássicos e raros, além do charme do Museu criado pelo genial arquiteto Affonso Eduardo Reidy e emoldurado pelo belíssimo jardim projetado por Roberto Burle Marx. O MAM já tinha como diretora Maria Regina Nascimento Brito, cuja passagem polêmica pelo museu, independente de seus detratores ou defensores, teve como um de suas marcas indiscutíveis o autoritarismo centralizador de conseqüências trágicas para a Cinemateca.
Como um departamento do MAM, a Cinemateca vinha perdendo a relativa autonomia e a influência conquistada desde os anos 1960 por seu maior ícone, o amazonense Cosme Alves Netto (1937-1996), curador da Cinemateca de 1965 a 1988 e verdadeira tradução brasileira para o mítico Henri Langlois. Da mesma forma que o fundador da Cinemateca Francesa, Cosme dedicou sua vida à Cinemateca do MAM que ele ajudou a consolidar.
Mas aos problemas internos somava-se também a deterioração do entorno do museu, com o Parque do Flamengo entregue a crianças de rua e mendigos, o que colaborava para a atuação pública da Cinemateca ser eclipsada pela de outras instituições culturais como o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), cuja sede no Rio foi criada em 1989. Mas a principal concorrência era dos novos circuitos formados por cineclubistas que tiveram a Cinemateca como um de seus principais parceiros. Já em 1986 a revista Domingo do Jornal do Brasil (14 set. 1986) estampava em sua capa uma reportagem sobre “A geração Estação Botafogo”, que substituía a já envelhecida geração Paissandu. Não foi à tôa, aliás, que o grupo Estação arrendou o Cine Paissandu, se apropriando de seu capital cultural, que foi largamente utilizado, por exemplo, para provocar o frenessi que cercou o fechamento deste “templo do cinema de arte” em agosto de 2008.
Ainda assim, capitaneada pela jornalista e crítica do Jornal do Brasil Susana Schild (como antes o também crítico deste jornal, José Carlos Avellar) no início dos anos 1990, e posteriormente pelo professor João Luiz Vieira, a Cinemateca conseguiu alguns sucessos de público e de mídia, com mostras memoráveis como as dedicadas a Jean Renoir, D.W. Griffith, Ingmar Bergman, entre outras.
Entretanto, é significativo que quando ingressei no curso de cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF), em 1998, o primeiro estágio (como voluntário) meu e de vários colegas da faculdade foi na Mostra Rio – X Mostra Internacional do Filme, organizada pelo Estação, que era o grande acontecimento para a juventude cinéfila carioca (No ano seguinte, a Mostra Rio juntaria suas forças com o Rio Cine, dando origem ao Festival do Rio).
Mas foi também através da UFF que meus vínculos com a Cinemateca foram reforçados, inicialmente através de um estágio voluntário proporcionado pelo professor João Luiz Vieira, ex-curador da Cinemateca. De maio a agosto de 2000, eu e mais uma aluna (Poliana Paiva) íamos semanalmente a Cinemateca para pesquisar e preparar perfis biográficos de diretores brasileiros para a futura base de dados da instituição. Foi a primeira vez que conheci o interior da Cinemateca, especialmente seu Setor de Documentação que, na “era Maria Regina”, saíra da alçada da Cinemateca e, fundindo-se com o setor de documentação de artes plásticas, passou a compor o viria a ser chamado de Centro de Memórias MAM. Carlos Eduardo Pereira, o Cadu, funcionário do MAM e ex-aluno da UFF, era o responsável pelo setor, trabalhando junto com Maurício Salles e Giovani Simionato, mas todos subordinados à coordenadora do setor, Lúcia Lobo, que chegara a acumular o cargo de curadora da Cinemateca.
Pouco antes disso, o setor de documentação contara com um significativo exército de estagiários – como o hoje crítico Ruy Gardnier e alguns colega da minha geração da UFF – que recebiam como forma de remuneração uma carteirinha de gratuidade em alguns cinemas do Estação, algo que provocava a inveja de muita gente. Em contrapartida, a Cinemateca cedia gratuitamente cópias de seu acervo para a programação das salas do Estação (o que continuou fazendo por muito tempo, alimentando, por exemplo, as surpresas das madrugadas na Maratona Odeon). Aliás, ter uma carteirinha do Estação era a melhor maneira de ver filmes, pois nessa época a Cinemateca já não mantinha uma programação regular em sua sala e muita gente achava que ela tinha fechado de vez.
Foi neste estágio também que conheci funcionários como Wanderci, responsável pelo acervo da Atlântida, e, principalmente, Hernani Heffner, conservador da Cinemateca que assumira a função de Francisco Moreira (o Chico), que por desentendimentos com a diretoria do MAM e pelo desânimo decorrente disso, pedira demissão e tinha ido, em 2000, para a Labocine constituir o laboratório de restauração que não conseguira criar na Cinemateca.
Ao assumir a tarefa de redigir perfis biográficos de cineastas brasileiros conheci a generosidade e o conhecimento do Hernani, também ex-aluno da UFF, que nos auxiliava em um trabalho extremamente proveitoso para mim, mas que, na verdade, não resultou em nada de concreto para a Cinemateca, uma vez que a base de dados que utilizaria nossos textos nunca chegou a ser criada. Conheci uma das facetas mais interessantes do Hernani quando diante da recém-publicada Enciclopédia do Cinema Brasileiro, perguntei por que eu, estudante do quarto período de cinema, estava redigindo perfis para cineastas e não copiando os já feitos por especialistas. A resposta do Hernani foi: “Porque tem muita coisa errada na enciclopédia”. Ao mesmo tempo em que ele construtivamente destruía qualquer idealização que eu pudesse ter dos "grandes nomes" da academia, ele generosamente nos estimulava a não deixarmos de fazer algo só porque essa mesmo coisa já tinha sido feita antes por outras pessoas. Só depois fui descobrir que ele próprio tinha sido o responsável por mais de cem verbetes da Enciclopédia, tendo sido um de seus principais colaboradores.
Ao longo de 2001, ainda na UFF, meu contato com o MAM se estreitou quando passei a cursar algumas disciplinas oferecidas na própria sala de exibição da Cinemateca pelo Hernani e por Lécio Augusto Ramos – ambos pesquisadores da Cinédia e recém-contratados como professores substitutos. Apesar da luta contra o sono nas aulas dadas na sala escura às 9 da manhã, pude assistir, em cópias 35 mm, raridades como Maior que o ódio (José Carlos Burle, 1951), Vereda da salvação (Anselmo Duarte, 1965) ou A família do barulho (Julio Bressane, 1970), sem ter noção exata do privilégio que estava desfrutando na ocasião.
Logo em seguida, através de prova de seleção, me tornei monitor do Hernani na disciplina História do Cinema Brasileiro, que voltou a ser dada no IACS (Instituto de Artes e Comunicação Social), em Niterói, devido a reclamações da direção do MAM quanto ao uso do auditório da Cinemateca para aulas da UFF. Naquela época ele continuava ministrando também a disciplina optativa “Preservação de filmes” e alguns alunos da cadeira, entre eles, Marina Meliande, Filipe Bragança, Débora Butruce, Silvia Franchini, Ines Aisengart, Marco Dreer Buarque, entre outros, tinham sido contratados para trabalhar na Cinemateca como estagiários do projeto Censo Cinematográfico Brasileiro, patrocinado pela Petrobrás. Muitas vezes, presenciei aulas do Hernani na cinemateca serem interrompidas por um daquelas figuras vestidas de jalecos brancos, máscaras e luvas que vinham com uma lata na mão tirar alguma dúvida.
Mas em junho de 2002, cerca de um ano após o início deste que foi o maior trabalho de catalogação do patrimônio cinematográfico brasileiro já feito, ocorreu o que viria a ser o momento mais dramático na história da Cinemateca do MAM. Nos anos anteriores, o acervo de filmes tinha crescido dramaticamente – tendo como marco o depósito de um grande lote de cópias da Embrafilme, em 1991, após sua extinção pelo presidente Collor – enquanto suas condições estruturais foram se deteriorando, a despeito de avanços como a climatização dos arquivos por conta da instalação de um sistema de ar-condicionado central para o prédio.
Sem o investimento necessário em infra-estrutura ou principalmente em pessoal, as condições de guarda do arquivo chegaram a um estado crítico. Desse modo, numa atitude que refletia o desprestígio do setor na própria instituição e sem seguir o ditado que advertia para “não jogar fora a água da bacia com o bebê dentro”, a diretora do MAM decidiu que o museu não se responsabilizaria mais pela guarda dos filmes. Ela instituiu que todos os depositantes deveriam ser contatados para retirar seus materiais do arquivo o quanto antes. Em suma, começava o desmonte da Cinemateca – e com data marcada para acabar. A diretora Maria Regina Nascimento e Brito tinha dado como prazo até 31 de julho de 2002 para que todos os depositantes retirassem suas matrizes da Cinemateca.
Embora somente em 2002 a “bomba” tenha estourado, ela já tinha sido armada alguns anos antes. Num documento interno do MAM intitulado “Seria engraçado, se não fosse trágico e verdadeiro”, dirigido à Direção do Museu, e datado de meados dos anos 1990, já se alertava para a insensatez de um projeto de transferir o acervo de filmes para depósitos em Bonsucesso da empresa Metropolitan, firma especializada na guarda dos mais variados produtos (sobretudo móveis), em troca de um pagamento mensal: “Alguma coisa com os mesmos benefícios da omissão, só que sem o sentimento de culpa”. O documento apontava ainda que a Cinemateca do MAM tinha plenas condições de salvaguardar seu acervo, bastando empenho para que as obras da reserva técnica fossem finalizadas e fossem feitos os concertos e remanejamentos dos dutos de ar-condicionado: “Com cerca de 15 mil reais o problema estaria sanado”.
Como o dinheiro não apareceu, em 2002 desapareceu também o sentimento de culpa e os filmes, ao invés de transferidos, seriam despejados. Além da atitude arbitrária e covarde da direção do MAM, a condução desajeitada e apressada desse processo causou os veementes protestos. A manifestação mais contundente, porém, foi liderada pelos alunos do curso de cinema da UFF, em especial os que tinham cursado a cadeira de Preservação de Filmes com Hernani, além dos ex-estagiários do Censo. Os estudantes redigiram uma “carta aberta contra o despejo da Cinemateca do MAM” e organizaram um “panelaço” sob os pilotis do MAM, em 5 de junho de 2002, cujas imagens estão registradas no curta-metragem Preservação das Imagens em Movimento (Phillip Johnston, 2008). 


Os jornais publicaram inúmeras matérias a respeito do acontecimento, levando o então Presidente do Conselho Deliberativo do MAM, o colecionador de artes Gilberto Chateaubriand, a escrever uma carta para o Jornal do Brasil (16 jun. 2001) acerca da polêmica. No texto, dizia que, por diversos motivos, entre eles o alarde pelo suposto perigo de contaminação do acervo de artes plásticas (grande parte do próprio Chateaubriand) pelo “vinagre” dos filmes através dos dutos de ar-condicionado, se decidiu “que a instituição não poderia mais manter em seus domínios o depósito de matrizes, sob o risco de ser, mais tarde, responsabilizada pelas eventuais perdas que poderão ocorrer desse patrimônio nacional”.
Apesar dos protestos da classe, incluindo a criação de um abaixo assinado na internet que reuniu milhares de assinaturas, o despejo continuou e muitos filmes foram naturalmente encaminhados para a Cinemateca Brasileira, em São Paulo, ou para a casa dos próprios produtores, como ocorreu com o acervo do Canal 100, de Alexandre Niemeyer, ou com o acervo da Caliban Filmes, do cineasta Silvio Tendler. A questão regional foi invocada e numa guerra cariocas versus paulistas se clamou contra o fato do Rio de Janeiro estar perdendo seu principal acervo cinematográfico. Em meio ao debate, o prefeito César Maia, através de seu secretário das culturas, Ricardo Macieira, lançou um de seus factóides e anunciou com grande estardalhaço a futura construção da “Cidade do Cinema”, no cais do porto, projeto jamais tirado do papel, ao contrário da insegura Cidade do Samba e da megalomaníaca Cidade da Música.
Além de outras opções pouco prováveis – como o depósito da Labocine ou o futuro Museu de Cinema, em Niterói (até hoje vazio e inconcluso) – uma alternativa mais viável levantada foi o encaminhamento dos filmes para o Arquivo Nacional, que já contava com um reduzido acervo formado sobretudo por cinejornais estatais da antiga Agência Nacional. A proposta foi encampada pela direção do Arquivo Nacional, e acervos de peso como os da LC Barreto, Atlântida e R. F. Farias foram encaminhados para seus depósitos. O setor filmográfico da instituição subitamente se ampliou e os estagiários formados na Cinemateca do MAM foram contratados temporariamente como os novos técnicos de preservação do Arquivo Nacional. Diante dessa solução e falando em nome da prefeitura em entrevista coletiva, o secretário Ricardo Macieira prometeu investir R$ 3 milhões no Arquivo Nacional (O Globo, 26 jun. 2002) – o que obviamente nunca foi feito. Quatro anos depois o prefeito César Maia disse que esse compromisso nunca foi um projeto, mas apenas uma idéia (O Globo, 27 ago. 2006). Hoje, atingido seu limite, o Arquivo Nacional não está recebendo mais filmes até controlar o acervo que já possui.
Eu entrei no quadro de funcionários da Cinemateca justamente nesse período trágico. Em fins de 2002, Hernani me convidou para um trabalho temporário previsto para durar cerca de seis meses com a função de identificar os filmes não-identificados que deveriam ser retirados. Ou seja, eu deveria abrir as latas e estojos que não continham dado algum nos rótulos e etiquetas (ou pelo menos, dados confiáveis ou completos) e examinar as películas na mesa enroladeira para tentar determinar do que se tratava. Eu deveria ter noções básicas sobre o manuseio de películas (que adquiri ali, na prática) e conhecimento amplos sobre cinema brasileiro, pois teria que reconhecer atores, cenários e cenas para identificar latas que eram freqüentemente parte de algum longa metragem que eu deveria juntar como um quebra-cabeças. Enfim, ia ajudar a jogar as últimas pás de terra no enterro da Cinemateca.
Assumi meu posto de “pesquisador” da Cinemateca em 1º de novembro de 2002. Na época, Hernani tinha apenas dois assistentes no arquivo de filmes, Paulo e Fernando, que o ajudavam a transportar as latas, separar os lotes que seriam enviados para outros arquivos e “soltar” os filmes (isto é, afrouxar os rolos para liberar os gases). O montador Gilberto Santeiro, que assumiu o cargo de curador em 2000, quando já se delineava o futuro desmonte da Cinemateca, e Cadu, transferido do Setor de Documentação, eram os responsáveis pela programação da sala de projeção. Curiosamente, nesse mesmo conturbado período o auditório passou por uma reforma e a Petrobrás patrocinou a compra de novos e excelentes projetores italianos e a Rio Filme apoiou a instalação do sistema de som Dolby. A sala ensaiou uma reabertura com pequenos ciclos esporádicos de filmes do que restava do acervo, ajudando à direção do MAM a negar que a Cinemateca tivesse acabado, como grande parte da cidade passou a pensar...
Enquanto isso, numa salinha com uma mesa enroladeira eu identificava rolos e mais rolos de filmes e nos corredores da Cinemateca dezenas de sacos com filmes eram organizados para serem transportados para o Arquivo Nacional ou para a Cinemateca Brasileira. Já as latas que restavam (que não era poucas) e que em grande parte estavam na sala 18 do bloco escola – onde funcionou o estúdio de som da Cinemateca nos anos 1970 e que fora improvisado como sala de guarda – começaram a ser transportadas para o depósito subterrâneo que estava, então, em melhores condições. Foi nas centenas idas e vindas com o carrinho carregado de latas que eu aprendi o quão duro e cansativo pode ser trabalhar numa Cinemateca. E mesmo no auge dos meus 22 anos, eu sofria para acompanhar quem já estava “cascorado” nesse trabalho...
Entretanto, os problemas começaram a aparecer não apenas na Cinemateca, mas também no MAM. O equilíbrio nas contas do museu, historicamente deficitárias, mas que, recentemente equilibradas, vinham sustentando efetivamente a direção no cargo havia alguns anos, começou a dar mostras de desgaste, cujo primeiro reflexo foi o atraso no pagamento do salário dos funcionários (O Estado de S. Paulo, 7 fev. 2003). Os problemas financeiros aliados à repercussão negativa pelo desmonte da Cinemateca levaram à queda da diretoria do MAM no começo de 2003 - a instância decisória do museu, instituição privada desde sua origem, é seu Conselho Deliberativo. Vindo do mercado de seguros, Hélio Portocarrero assumiu como diretor e Carlos Alberto Gouveia Chateaubriand, como vice-diretor.
A mudança na direção botou um ponto final no processo de despejo – o acervo que ainda permanecia na Cinemateca não precisava mais sair. Apesar da perda substancial – e principalmente o efeito trágico para a imagem da instituição – o acervo continuava significativo. Cerca de 70% das cópias e 30% das matrizes anteriores ao processo de desmonte permaneciam nas estantes. E continuavam demandando cuidado.
Por outro lado, o fundo do poço parecia ainda mais fundo. Em meio à crise financeira da instituição, os dois únicos funcionários que trabalhavam com Hernani no arquivo de filmes acabaram demitidos (Paulo, por seu contrato ser temporário, e Fernando, por manifestar claramente que queria ir embora) e ninguém foi readmitido em seus postos. Eu, por outro lado, fui contratado definitivamente após o período de seis meses, mas deslocado para o Setor de Documentação, no lugar do Giovani Simionato, um dos vários funcionários que tinham pedido demissão durante as turbulências anteriores devido aos atrasos de salário e à insensatez das chefias.
Ou seja, o arquivo de filmes passava a ter somente um funcionário (o Hernani) e o Setor de Documentação, o dobro: eu e Maurício Salles. Ao assumir minha função me dei conta que não tinha sido apenas o arquivo de filmes o prejudicado com o desmonte da Cinemateca. A ânsia por “abrir espaço” e “jogar fora” tinha atingido também a biblioteca, a hemeroteca e o arquivo de fotos e cartazes. Embora Hernani – que tinha entrado no MAM justamente como Coordenador do Setor de Documentação, em 1996 – tenha salvado o que pôde com o apoio fundamental de Alice Gonzaga, da Cinédia, muito se perdeu. Até uma ata original dos primeiros anos do Museu chegou a ser jogada no lixo por engano, sendo resgatada por Dona Alice e depois encaminhada de volta ao MAM. Além disso, numa estratégia de guerrilha, Hernani e Cadu tinham guardado um tanto indiscriminadamente centenas de documentos em caixas e mais caixas de papelão como forma de escondê-los da fúria destruidora da diretoria do Museu.
Desse modo, a paisagem que eu encontrei no Setor de Documentação foi de caixas e mais caixas fechadas que mal se sabia o conteúdo. O clipping de imprensa se acumulava dos três anos anteriores ajudando a criar um cenário literalmente kafkaniano. O desprestígio da Cinemateca dentro do MAM era tal que seu acervo documental não era mais gerenciado por ela, mas pela Coordenadora do Setor de Documentação e Pesquisa do MAM, Rosana Freitas, ex-assistente de Lúcia Lobo que assumiu o cargo após sua saída.
Diante desse quadro, o muito que se conseguiu fazer pela Cinemateca – por seu acervo de filmes e de documentação correlata – foi graças ao grande esforço de parte de seus cada vez mais escassos funcionários, e também pela colaboração voluntária de muitos amigos.
Antes e depois da tragédia de 2002, Hernani procurou desenvolver o que Ray Edmondson, em Audiovisual Archiving: Filosophy and Principles, chamou de criação de uma “base de apoio”, uma estratégia essencial para os arquivos audiovisuais. Atendendo a todos com presteza e paciência, fazendo favores e cedendo informações e dados, Hernani construiu um círculo de amigos – em torno de sua pessoa, mas que ele deslocava para a Cinemateca – que retribuíram esse esforço de diversas formas. Além disso, assim como o casal Langlois e Mary Meerson no caso da Cinemateca Francesa, muitas pessoas eram atraídas para a Cinemateca do MAM por conta da própria figura do Hernani, o que acontecera antes também com o carismático Cosme.
Obviamente, muitos interesseiros também apareciam, e a Cinemateca sempre atraiu o que eu chamava de “sanguessugas”, que só se aproximavam enquanto poderiam obter algum benefício – fosse o privilégio de uma cabine de projeção exclusiva (as moviolas estavam todas quebradas), o empréstimo informal de um livro (quebrando a regra de consulta apenas local) ou a cessão gratuita de uma cópia (sendo abatida a principal fonte de renda do acervo). Quando passei a verificar a situação do acervo documental, percebi que dezenas de coisas, especialmente fitas de vídeos e livros, tinham sido emprestadas para diversas pessoas – professores e estudantes, cineastas famosos ou ex-funcionários da Cinemateca –, mas não tinham sido devolvidas. O mais surpreendente é que entrei em contato com algumas dessas pessoas solicitando a devolução dos mesmos e, ainda assim, muitos não o fizeram. Tivemos que repor algumas vezes cópias em VHS de filmes como Os óculos do vovô (dir. Francisco Santos, 1913) e livros como História do Cinema Brasileiro (org. de Fernão Ramos, 1987) que foram “extraviados”. Entretanto, como percebi depois, foi um risco calculado colocado em prática por Hernani, que visava, acima de tudo, a construção dessa “base de apoio” que se revelou essencial.
Se internamente a Cinemateca passou a tentar juntar os cacos do que sobrara depois do vendaval, o esforço de reconstrução da instituição, sobretudo frente à opinião pública, teve que passar também pela programação;
Em julho de 2003 a Cinemateca voltou a manter uma programação regular em seu auditório, com sessões de quinta a domingo. Os jornais reproduziram manchetes como “Retomada da Cinemateca” ou “Cinemateca de volta à ativa”, mas o público perdido não era fácil de ser reconquistado (O Globo, 6 ago. 2003).
Nessas primeiras semanas presenciei tanto uma sessão do clássico Casablanca (Michael Curtiz, 1942) com uma surpreendentemente boa cópia 35 mm atrair oitenta espectadores para o MAM, quanto uma sessão do filme noir brasileiro Amei um bicheiro (Jorge Ileli e Paulo Wanderley, 1952) ser cancelada por falta de público - na verdade só havia um espectador, eu, mas como era "de casa", não fui levado em conta...
Apesar das dificuldades em não afetar veleidades internamente, uma boa saída encontrada foi terceirizar a programação da sala, através de programadores que tinham maior habilidade em atingir o(s) novos gosto(s) do público(s) e dinamizar e ampliar a divulgação das sessões. Foram iniciadas bem-sucedidas parcerias com cineclubes criados por professores e alunos da UFF, como o Sala Escura, dedicado ao cinema latino-americano, e o Tela Brasilis, focando exclusivamente o cinema brasileiro. Ainda assim, algumas parcerias não chegaram a ser concretizadas. Por falta de diplomacia, a mostra “Cinema Brasileiro – a vergonha de uma nação” deixou de ser realizado na Cinemateca do MAM, sendo exibida em parte no Cineclube Diablo (“só filme from hell”), no Instituto de Arquitetos do Brasil, e no cineclube Malditos filmes brasileiros, na Casa França-Brasil, até se transferir para São Paulo e receber acolhida na Cinemateca Brasileira. A enorme repercussão do evento realizado em dezembro de 2004 colaborou para que seu organizador, Remier Lion, fosse então contratado como programador da instituição.
Outra possibilidade de reconquistar o público foi o ingresso no circuito de mostras e festivais. A participação da Cinemateca do MAM no Festival do Rio 2003, sediando a retrospectiva “Mário Monicelli, patrimônio do cinema”, deu início a esse tipo de parceria, que depois se estendeu a diversas edições do Cine Sul, Curta Cinema, É tudo verdade, entre outros.
Em 2004, a mostra “Sci-Fi” na Cinemateca do MAM foi um dos hits da programação do Festival do Rio, com a exibição de cópias 35 mm estrangeiras de pérolas como Zardoz (idem, John Boorman, 1973), No mundo de 2020 (Soylent Green, Richard Fleischer, 1973) e Westworld, onde ninguém tem alma (Westworld, Michael Crichton, 1973). Eu me lembro da sessão de Fahrenheit 451 (idem, François Truffaut, 1966) – que nunca foi lançado em vídeo no Brasil e que na época ainda não estava disponível em DVD – ter tido gente sentada no chão, pois os 180 lugares já estavam ocupados... Era algo que havia muitos anos não acontecia na Cinemateca!
Entretanto, o sucesso muitas vezes era maléfico para a Cinemateca, pois mais pessoas notavam suas graves deficiências, tornando ainda mais evidentes as péssimas condições do banheiro do auditório, a falta de funcionários para atender ao público e a total carência de segurança do local à noite. Desse modo, muitas iniciativas de melhoria das atividades esbarravam nas faltas de condições estruturais e o exemplo seguinte reflete esse dilema. Para a mostra “Sci-Fi”, decidimos organizar uma exposição temporária de cartazes de filmes de ficção científica do acervo da Cinemateca no hall de entrada do auditório. Após o final da última sessão em um dos dias da mostra, quando o bilheteiro contratado pela organização do Festival do Rio já tinha ido embora e minutos após a saída do público, notei que o cartaz original, norte-americano, de 2001, uma odisséia no espaço havia sido furtado! Aproveitando a falta de vigilância, alguém que estava no cinema rapidamente tirou a moldura e levou o cartaz, que é vendido pela internet por preços que variam entre 300 e 1.000 dólares. A segurança do MAM foi avisada, mas os dois únicos vigias de uma firma terceirizada – que permaneciam trancados dentro da entrada administrativa do museu – se eximiram de responsabilidade. O mesmo ocorreu com a direção do museu, e a curadoria da Cinemateca achou melhor não mais fazer esse tipo de exposição por “falta de segurança” (ou melhor, falta de seguranças) e o caso foi esquecido sem nenhuma providência ter sido tomada. Posteriormente, voltou a se utilizar o hall da Cinemateca para exposições temporárias, mas apenas de cópias de documentos ou fac-símile.

Continua...

quinta-feira, 7 de junho de 2012

A experiência com restauração de filmes no Brasil

Vale a leitura do artigo de Marco Dreer Buarque, "A experiência com restauração de filmes no Brasil", publicado na revista Mosaico, do Centro de Pesquisa e Documentação da Fundação Getúlio Vargas (Cpdoc/FGV), instituição onde o autor trabalha.
O artigo faz um grande panorama das principais experiências de restauração de filmes no país, do caso pioneiro de Limite aos mais recentes projetos de resturação da obra de ícones do Cinema Novo.
Clique aqui para ler o artigo.