terça-feira, 24 de abril de 2012

Curso: “Como os filmes são feitos? Do cinema mudo à tecnologia digital”

Darei pela primeira vez um curso na Cinédia Cena Criativa, localizada na bela sede da Cinédia em Santa Teresa, em maio. Trata-se de um curso que já ofereci no Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBN), em 2010, e como oficina da Mostra de Cinema de Ouro Preto, em 2011, mas agora será no Rio de Janeiro mesmo.


Curso: “Como os filmes são feitos? Do cinema mudo à tecnologia digital”
Ministrado por Rafael de Luna Freire – Doutor em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela University of California – Los Angeles (UCLA).
A maioria das pessoas gosta de cinema, mas não sabe como o resultado visto na tela é alcançado. De que formas a tecnologia audiovisual se modificou dos filmes do passado para o cinema digital do presente? O curso irá tratar da história do cinema tratada do ponto de vista da tecnologia, permitindo aos alunos compreender melhor como a criatividade foi usada ao longo dos anos para aproveitar e superar os recursos à disposição dos cineastas. A partir do dia 30 de maio às 18:30h, sempre às quartas-feiras
4 aulas - Valor R$250,00
Cinédia Cena Criativa
Rua Santa Cristina, n° 5 – Glória
Tel. (21) 2221-2633
cinediacenacriativa@gmail.com




quinta-feira, 19 de abril de 2012

Cópias novas em mostra no MAM

A Cinemateca do MAM-RJ deu início à I Mostra ONS de Cinema Brasileiro, exibindo cópias novas de filmes brasileiros de seu acervo feitas com o patrocínio da ONS. Além de criar cópias de exibição de filmes cujas matrizes (negativos ou internegativos) estão depositadas no acervo da Cinemateca, criando um novo material no conjunto de materiais de preservação da obra, o projeto também permitirá a exibição e, assim, a descoberta e a reavaliação de filmes de diferentes épocas, estilos e gêneros. Se antes estes títulos estavam inacessíveis ou reféns de péssimas cópias (fosse em película ou VHS), agora podem ser conhecidas por novas platéias em condições dignas.
A mostra faz parte do projeto de Recuperação do Acervo da Cinemateca do MAM, tratado em post deste blog em outubro de 2011.
Estive ontem, quarta-feira, dia 18, na abertura da mostra com o filme Raoni (dir. Jean Pierre Dutilleux e Luís Carlos Saldanha, 1979), documentário que promove um interessante diálogo com o recém-lançado Xingu.
A exibição de filmes prossegue até o dia 29 de abril.
Veja abaixo a programação.

I Mostra de Cinema Brasileiro

18 – 29 abril Auditório

A I Mostra ONS de Cinema Brasileiro é resultado do projeto Recuperação do Acervo da Cinemateca do MAM, desenvolvido desde 2009, voltado para a criação de novas matrizes e cópias para títulos importantes da filmografia brasileira que se encontravam em precário estado de conservação ou sem material de acesso. A seleção, que obedeceu a critérios prioritariamente de preservação, realiza um passeio pelas várias dimensões artísticas, históricas e culturais da produção cinematográfica do país, apresentando obras que não circulam há pelo menos 20 anos. Dois debates acompanham a Mostra, um dedicado ao célebre curso ministrado em 1962 pelo cineasta sueco Arne Sucksdorff no Rio de Janeiro, evento deflagrador da formação da chamada segunda geração do Cinema Novo, e outro à atriz Zezé Macedo, a intérprete feminina com a maior filmografia do Cinema Brasileiro, 108 títulos, e que estrelou um único filme, apresentado nesta programação.

Qui 19 18h30 Mostra ONS MITT HEM ÄR COPACABANA/FÁBULA de Arne Sucksdorff. Suécia/Brasil, 1965. Com Leila Santos de Sousa, Cosme dos Santos, Josafá da Silva Santos e Antônio Carlos de Lima. Narração em sueco, diálogos e legendas em português. Drama, p&b, 1.66:1, Mono, 88 min.
Exibição em 35mm. Indicado à Palma de Ouro no Festival de Cannes, Guldbagge de Melhor Direção em 1965, narra a trajetória de 4 crianças pobres, oriundas da favela Pavão-Pavãozinho, em sua luta diária pela sobrevivência em meio ao bairro carioca de Copacabana. Sessão seguida do debate “50 anos do Curso Sucksdorff”.

Sex 20 18h30 Mostra ONS CRONICA DE UM INDUSTRIAL de Luís Rosemberg Filho. Brasil, 1978. Com Renato Coutinho, Ana Maria Miranda, Wilson Grey e Kátia Grumberg. Drama, Cor, 1.66:1, Mono, 87 min.
Exibição em 35mm. Empresário com passado de esquerda entra em crise diante dos novos rumos do país, pós milagre econômico.

Sab 21 16h Mostra ONS O FRACO DO SEXO FORTE de Osíris Parsifal de Figueroa. Brasil, 1973. Com Hugo Bidet, Josef Guerreiro, Wilson Grey e Meiry Vieira. Pornochanchada, Cor, 1.66:1, Mono, 84 min.
Exibição em 35mm. Ex-figurante ganha na loteria esportiva e se torna produtor de cinema, com tratando um intelectual e um erotômano para desenvolver o argumento da película.

18h Mostra ONS ISTO É NOEL ROSA de Rogério Sganzerla. Brasil, 1991. Com João Ximenes Braga, Juracy de Morais e imagens de arquivo de Noel Rosa. Filme Ensaio, Cor e p&b, 1.37:1, Mono, 43 min.
Exibição em 35mm. Cópia com legendas em inglês. Noel Rosa anda pela cidade em meio ao carnaval de 1990, vivendo seus últimos dias, enquanto a narrativa explora e reflete sobre a natureza e o destino de sua arte.

Dom 22 16h Mostra ONS BANANA MECÂNICA de Braz Chediak. Brasil, 1974. Com Carlos Imperial, Miguel Carrano, Miriam Pérsia, Nélia Paula e Rose Di Primo. Comédia erótica, Cor, 1.37:1, Mono, 95 min. Exibição em 35mm.
O psicanalista Dr. Ferrão conduz experimento em torno da sexualidade com a intenção de ficar com jovem muito bonita, mas os acontecimentos fogem ao seu controle.

18h Mostra ONS AMENIC - ESTRE O DISCURSO E A PRÁTICA de Fernando Silva. Brasil, 1984. Com Joel Barcellos, Paula Gaitán, Aldine Muller, Lady Francisco, Fernanda Torres e Luthero Luiz. Drama, Cor, 1.66:1, Mono, 95 min. Exibição em 35mm.
Melhor Fotografia no I Rio Cine Festival. Casal de cineastas entra em crise devido às dificuldades para levar adiante sua arte em meio à crise econômica e institucional em que mergulha o país e a área.

Qua 25 18h30 Mostra ONS SANGUE QUENTE EM TARDE FRIA de Fernando Cony Campos e Renato Neumann. Brasil, 1973. Com Milton Rodrigues, Talula Campos, Francisco Santos e Angela Santos. Drama, Cor, 1.37:1, Mono, 87 min.; Exibição em 35mm.

Assaltante perseguido pela polícia rodoviária seqüestra mãe, filha e o motorista, provocando uma reviravolta familiar.

Qui 26 18h30 Mostra ONS ETÉIA, A EXTRATERRESTRE EM SUA AVENTURA NO RIO de Roberto Mauro. Brasil, 1983. Com Zezé Macedo, Eliezer Motta, Claudioney Penedo e Wilson Grey. Paródia, Cor, 1.66:1, Mono, 94 min. Exibição em 35mm.
Etéia vem à Terra em busca do namorado e não o encontrando, tem que fugir da perseguição de um detetive desastrado e lidar com seus poderes inusitados. Sessão seguida do debate “A Arte de Zezé Macedo”, com a participação

Sex 27 18h30 Mostra ONS O SANTO E A VEDETE de Luís Rosemberg Filho. Brasil, 1981. Com Luthero Luiz, Adriana de Figueiredo, Paula Nestorov, Renato Coutinho e Wilson Grey. Comédia Erótica, Cor, 1.66:1, Mono, 80 min. Exibição em 35mm.
Político do interior vem passar o carnaval no Rio de Janeiro e se apaixona por vedete. Excursionado com sua trupe, vai parar na cidade do amante e passa e pedir favores cada vez mais comprometedores.

Sab 28 16h Mostra ONS COSTINHA E O KING MONG de Alcino Diniz. Brasil, 1977. Com Costinha, Ferrugem, Wilza Carla, Nídia de Paula e Hugo Bidet. Paródia infanto-juvenil, Cor, 1.37:1, Mono, 85 min. Exibição em 35mm.
Costinha, O Rei da Selva, está para ser sacrificado ao gigantesco King Mong por não querer casar com a gorda rainha dos Homens-Leopardos, quando se envolve com Jane e três bandidos que querem levar o gorila para a civilização e explorá-lo.

18h Mostra ONS MEMÓRIA DE HELENA de David Neves. Brasil, 1969. Com Adriana Prieto, Arduíno Colasanti, Maria Rosa Pena, Joel Barcellos e Mair Tavares. Drama, Cor e p&b, 1.37:1, Mono, 80 min.
Exibição em 35mm. Melhor Filme no Festival de Brasília. Rosa e Renato recordam a relação com Helena em Diamantina através de seu diário e de alguns filmes familiares.

Dom 29 16h Mostra ONS A CARTOMANTE de Marcos Farias. Brasil, 1976. Com Maurício do Vale, Ítala Nandi, Ivan Cândido e Paulo César Pereio. Drama. Cor, 1.37:1, Mono, 84 min. Exibição em 35mm. Adaptação do conto homônimo de Machado de Assis. Triângulo amoroso passado em duas épocas, 1871 e 1971, com previsões distintas de uma cartomante para o desenlace.

18h Mostra ONS BRASÍLIA, A ÚLTIMA UTOPIA: O SONHO NO SONHO de Vladimir Carvalho, Pedro Jorge de Castro, Moacir de Oliveira, Roberto Pires, Geraldo Rocha Moraes e Pedro Anísio. Brasil, 1989. Documentário, Cor, 1.37:1, Mono, 97 min. Exibição em 35mm. Longa metragem em episódios explorando diferentes aspectos da Capital Federal em sua proposição como uma nova dimensão do país.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Sobre o post anterior

Não imaginei que o texto sobre a Cinemateca Brasileira e o afastamento de Carlos Roberto de Souza da curadoria da Jornada Brasileira de Cinema Silencioso teria uma repercussão tão grande. Através, sobretudo, de links no facebook, o artigo foi lido mais de 800 vezes nos últimos dois dias, batendo o recorde de acesso no blog.
Além dos comentários feitos no próprio post, vários colegas me enviaram mensagens pessoais comentando o teor do texto ou compartilhando a indignação pelo ocorrido. O fato de Carlos Roberto ser uma pessoa tão querida e, principalmente, por este ser apenas mais um de uma série de acontecimentos absurdos e injustificáveis que vem acontecendo na Cinemateca Brasileira talvez sejam os motivos do post ter dado voz a um sentimento mais amplo.
No último Encontro Nacional de Arquivos e Acervos Audiovisuais, realizado em Ouro Preto, ano passado, eu conversei longamente com o saudoso Gustavo Dahl sobre a Cinemateca Brasileira, uma vez que ele era, inclusive, presidente do Conselho da instituição. Sobre os meus arroubos de indignação no blog, ele gostava de dizer, usando uma metáfora bem ao seu gosto e ao seu tempo de juventude, que não adiantava queimar a bandeira dos Estados Unidos em frente à Embaixada Americana, se ninguém tinha condição realmente de invadir com armas o país mais poderoso do mundo. Pragmaticamente, aquilo seria inútil, quando não prejudicial.
O que ele queria dizer era que a Cinemateca Brasileira estava de tal modo "blindada" - fosse pelos favores que prestava, pela subserviência do SAv e MinC, ou pelo poder da SAC - que reclamar, protestar ou se rebelar de nada adiantaria. Estando à frente do CTAv na época, Gustavo falava na posição de estrategista e político nato que era, tentando sustentar a delicada posição de uma instituição carioca que tentava voltar a investir efetivamente na preservação audiovisual. "Delicada" pois o CTAv possivelmente significaria um contraponto ao monopólio da área pela Cinemateca, ao mesmo tempo em que dependia de recursos do Governo que vinham através da própria Cinemateca (isto é, da Sociedade de Amigos da Cinemateca).
Lamentavelmente Gustavo se foi e perdemos uma das únicas pessoas que podia resolver, de forma politicamente hábil, a situação cada vez mais absurda de existir uma ditadura na preservação audiovisual no Brasil. Entretanto, continuo discordando, como o fiz em Ouro Preto, do que ele me dizia. Queimar bandeiras na rua tem importância, sim. Ficar em casa, calado e imóvel, é muito pior.
Entretanto, voltando aos tempos aos quais Gustavo se referia em sua metáfora, época de ditadura e abuso de poder, me lembro muito de Plínio Marcos, "autor maldito" que estudei em minha dissertação de mestrado. Ele dizia que a luta contra as arbitrariedades do governo se tornaram muito mais difíceis nos anos 1970, a partir do momento em que artistas passaram a depender cada vez mais de verbas e subsídios do próprio governo, ficando, portanto, comprometidos e incapazes de assumir livremente suas posições. Sob o mesmo contexto, especificamente em relação à área teatral, o historiador Yan Michalski escreveu, no mesmo tom, que os artistas "evitam participar da luta mais abrangente contra a censura, embora cada um deles, no momento de ser pessoalmente prejudicado, não hesite em botar a boca no mundo".
Ou seja, sem mobilização não acontece nada.

domingo, 15 de abril de 2012

Cinemateca Brasileira afasta curador da Jornada Brasileira de Cinema Silencioso (ou Paulo Emílio deve estar se contorcendo no túmulo)

Fui acusado algumas vezes de leviano nas críticas que venho fazendo ao, digamos, "modo de gestão" da diretoria da Cinemateca Brasileira, localizada em São Paulo. Vide, por exemplo, o caso da compra do acervo da Atlântida, em 2009, ou o edital público de Restauração de filmes. Às minhas colocações era contraposta a inegável "eficiência" na captação de verbas e no aumento dos recursos para a instituição. Modernos "gestores" substituiram os antigos curadores, tidos como cinéfilos românticos inadequados aos novos tempos. Mas o fato é que as coisas estão indo de mal a pior naquele que foi transformada há alguns anos no orgão oficial de preservação audiovisual do governo federal (e parceiro na superação, muitas vezes suspeita, dos entraves da burocracia estatal para liberação ágil de recursos).
Quase toda a geração de funcionários de carreira responsável por construir a Cinemateca e transformá-la numa instituição de referência em preservação cinematográfica no Brasil está sendo desmantelada. Aqueles que seriam os herdeiros de Paulo Emílio - fossem de suas idéias, compromissos ou de seu amor e dedicação à Cinemateca - são hoje mal-vistos. A Cinemateca Brasileira tornou-se um arquivo que impressiona seus visitantes pelas suas instalações (ou pelo menos, por sua fachada) e seus conselheiros pelo volumoso relatório anual de realizações (valorizando muito mais a quantidade do que necessariamente a qualidade ou profundidade). Mas qual é, hoje, o papel social da Cinemateca Brasileira? Qual é sua marca ou personalidade? Se em anos anteriores ela teria o rosto de um intelectual como Paulo Emílio (numa época de cinematecas personalistas), no que ela se tornou? Quais são as consequências de sua atuação? Seu impacto cultural e intelectual é tão frio e pouco significativo quanto os relatórios de prestação de contas das empresas...
Talvez a sua única grande iniciativa recente no campo da reflexão cinematográfica - algo que deve estar inevitavelmente ligado à preservação audiovisual, já que uma Cinemateca não é um mero depósito - tenha sido a criação da Jornada Brasileira de Cinema Silencioso. Tratava-se do único evento que, iniciado 2007, fazia algum cinéfilo ter vontade de ir a São Paulo - sobretudo por não haver um equivalente no Rio ou em outra capital. Nos moldes dos festivais de filmes de arquivo realizados ao redor do mundo, sempre tendo grandes pensadores e seus respectivos arquivos e cinematecas por trás, a Jornada... atendia aos sonhos dos cinéfilos brasileiros, maltratados por um cenário de projeções precárias, cópias ruins e curadorias medíocres.
À frente das cinco edições da Jornada..., utilizando seu cabedal intelectual e seu prestígio pessoal (o que garantia a presença de convidados de renome e o empréstimo de boas cópias de arquivos estrangeiros) estava Carlos Roberto de Souza, autor de vários estudos clássicos sobre cinema brasileiro e durante anos curador do acervo da Cinemateca.
Há alguns dias, o próprio Carlos Roberto postou em seu perfil no facebook, para a surpresa de seus amigos, que ele havia sido afastado do evento que ele mesmo criou. Plenamente identificado por toda a comunidade de historiadores, conservadores e pesquisadores de cinema com a Jornada Brasileira de Cinema Silencioso, Carlos Roberto deixou de ter qualquer vínculo com a mostra da qual era o curador desde a primeira edição.
Como escreveu a atual Secretária do Audiovisual, Ana Paula Santana, na Apresentação do catálogo da V Edição, em 2011, a Jornada... está "definitivamente consolidada no calendário de São Paulo e [...] é atualmente referência dentro e fora do país".
Curadores são os responsáveis por pensar e isso é a maior ameça para os burocratas, movidos pela necessidade de agir e fazer. Ou melhor, por passarem sempre a impressão de que estão "fazendo". Mas qual seria a razão de mexer, digamos, "em time que estava ganhando?" Bem, satisfação pública não tem sido uma marca constante da arrogante direção da Cinemateca Brasileira nos últimos anos, apesar de ser uma instituição que deve, por sua natureza, prestar contas à sociedadede suas atividades e decisões.
Como curador da Retrospectiva Cinematográfica Maristela, realizada no Centro Cultural Banco do Brasil (RJ, SP, DF), em 2011, tive sérios aborrecimentos com a Cinemateca Brasileira. Possuindo um laboratório "privado" (pois cobra - caro - por todos os seus serviços, apesar de ser mantido com recursos públicos), aliado a um acervo que cresceu exponencialmente às custas das dificuldades dos demais arquivos de filmes brasileiros, a Cinemateca Brasileria acumulou tal poder que se transforma em instrumento de pressão, quase de chantagem, contra todo e qualquer pesquisador ou produtor cultural que precise lidar com a memória cinematográfica no Brasil.
E qualquer pessoa que tenha trabalhado com a Cinemateca percebe que, apesar do esforço de vários de seus funcionários (terceirizados e com precário vínculo empregatício - trabalhando sempre "por projeto"), a aparência de presteza e eficiência é um efeito muito mais de marketing - este sim, muito competente. No mundo todo, sabe-se que não existe cinemateca "rica", pois o trabalho desse tipo de instituição sempre é muito maior do que as recursos (financeiros, pessoal etc) que ela consiga reunir, por maiores e melhores que eles sejam. Quando uma instituição como essa no Brasil orgulha-se de sua imagem de opulência, alguma coisa está errada ou as pessoas não estão vendo a realidade como ela é. Na pressa de não precisar mais se preocupar com algo tão espinhoso quanto a preservação do passado audiovisual, todo mundo deixa-se enganar. Afinal, cuidar de filmes antigos é um problema tão chato que se alguém chega e diz: "pode deixar que eu cuido de tudo", muitos querem mais é acreditar e nem pensarem mais sobre o assunto. No final de contas, ninguém quer ver é que o rei está nú.
Mas as reclamações de usuários da Cinemateca são constantes e, sem muito esforço, chegam frequentemente ao meu conhecimento. Porém, qualquer tentativa de questionamento é abafada, sufocada e aniquilada. Quem lembra da "Carta aberta à Cinemateca Brasileira", redigida por diversos pesquisadores e cineastas em 2010? Às custas de benefícios individuais (um favorecimento aqui, um emprego ali, um apoio acolá) ou principalmente do medo de represálias, a Cinemateca comprou o silêncio, contrangido ou não, da maioria. Afinal, hoje e em todo o país, quantos programas culturais - de apoios a cineclubes, publicação de revistas, manutenção de arquivos e produção de mostras - não dependem dos recursos da cada vez mais poderosa SAC? A Sociedade de Amigos da Cinemateca virou o S.A. da Cinemateca, uma instituição sem amarras instituicionais que movimenta milhões de reais de recursos federais.
A criatura cresceu e virou um mostro que devorou seus criadores ou aqueles que testemunharam, coniventes ou passivos, a transformação.
Eu sugeri no facebook um possível boicote a todo e qualquer evento da Cinemateca até Carlos Roberto ser recolocado à frente da Jornada. Infelizmente, do mesmo modo que a notícia de seu afastamento não me surpreendeu, sou muito cético a respeito de qualquer possibilidade de manifestação coletiva. Muita gente depende atualmente da Cinemateca Brasileira para se arriscar a confrontá-la. O arquivo de filmes que Paulo Emílio lutou para criar e consolidar desde meados do século passado cresceu muito nos últimos anos, mas algo extremamente importante parece ter se perdido irremediavelmente nesse caminho. Sua alma foi vendida. Adivinhem a troco de quê?

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Os cafajestes na internet


Os responsáveis pelo acervo de Jece Valadão tomaram um atitude importante.
Disponibilizaram legalmente, através de streamming, o clássico do cinema brasileiro Os cafajestes, produzido e estrelado por Valadão, na internet.
Veja aqui.