Nesse sentido, algo que vem ganhando força é a necessidade de preservar o espaço cinematográfico, com as especificidades tradicionalmente associadas à sessão cinematográfica (nos diferentes momentos históricos), e com as características intrínsecas aos distintos contextos locais. Por mais que o cinema tenha surgido "cosmopolita", ver um filme no Brasil não era igual a ver um filme em Paris, Hong Kong, Nairobi ou Los Angeles. E ver um filme na Cinelândia era diferente de ver um filme em Vaz Lobo, que era diferente de ver um filme em Juazeiro do Norte.
Justamente por hoje os globalizados multiplexes serem cada vez mais padronizados - uma sala de cinema nova é como um McDonald's, praticamente igual em todo o mundo -, há uma atenção redobrada em resgatar antigas salas de cinema fechadas, abandonadas ou ameaçadas. Esse movimento se alia a esforços em diversas cidades para revitalizar regiões degradadas nos últimos anos (especialmente os bairros centrais) ou conter a especulação imobiliária que consumiu salas de cinema que geralmente ocupavam generosos terrenos em ruas de grande circulação e fácil acesso.
O Cinema São Luiz em Recife |
Cine São José |
Cine-Theatro Guarany |
Há lutas que ainda estão sendo travadas, como a do Cinema Vaz Lobo, no Rio de Janeiro. Ou do Cine Excelsior, em Juiz de Fora (MG).
Há casos que merecem atenção, como o do lindo e antiquíssimo Cinema Íris, na Rua da Carioca, patrimônio incalculável para o cinema brasileiro, mas que está sendo ameaçado, como os prédios vizinhos, pela covarde e avassaladora "gentrificação" do Rio de Janeiro.
A parede onde ficava a tela do Cine Palácio |
Ali ao lado, um destino pior foi reservado ao Cinema Plaza, derrubado sem o fato merecer uma notinha sequer nos jornais.
Esse texto tem como motivação a discussão que tenho levantado em meu outro blog, sobre as salas de cinema de Niterói. A cidade vizinha ao Rio de Janeiro chegou a ter duas dezenas de salas de cinema, mas hoje conta apenas com dois multiplexes no centro da cidade. Um de seus cinemas mais queridos ainda de pé foi comprado pela Universidade Federal Fluminense ao ser ameaçado de demolição.
Entretanto, já que ele vai continuar de pé, o debate é o que será feito do prédio. A população precisa se mobilizar para poder influir nos rumos que serão dados ao Cinema Icaraí. Afinal, vamos continuar preservando apenas a fachada dos cinemas? Isto é, vamos continuar com essa preservação de fachada?
Um comentário:
Ótimo texto, bem fundadas reflexões e, especialmente, preocupações. E a expressão "preservação de fachada" nunca foi tão literal e metaforicamente bem utilizada! Em que pé estão os tão anunciados projetos de revitalização do Cine Vaz Lobo, do Cine Guaracy (Rocha Miranda), do Cine Olaria (ex Santa Helena), a retomada do Cine Santa Alice, no Engenho Novo, do Cine Bruni Méier, anunciados com alarde no início de 2012????
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