sábado, 5 de junho de 2010

Acervo Alcyr Costa - imagens de Belo Horizonte

Conforme reportagem no site da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Alcyr Costa, falecido em 1997 aos 78 anos, tinha uma empresa de cinema desde 1956 e sua família possui, hoje, um acervo sobre Belo Horizonte, com cerca de 500 filmes:

Memória de BH

Dentre as produções do cineasta, Alcely [filha do cineasta] citou um documentário, exibido, na época, no Cine Metrópole, antes do início dos filmes. “Meu pai filmou acontecimentos de destaque, como a criação de novos bairros de BH, a chegada de animais ao zoológico, o carnaval ano 1, promovido pela Prefeitura de Belo Horizonte, a posse de governadores e prefeitos, além de visitas ilustres”, informou. Para o evento da Câmara, Alcely explicou porque escolheu o vídeo ‘Belo Horizonte em três tempos’, de 12 minutos, que mostra BH de manhã, de tarde e de noite e a vida do belorizontino naquela década. “O vídeo mostra o ponto de encontro na Avenida Afonso Pena, o Café Nice, a Esquina dos Aflitos (ponto do comércio na capital), a moda, o tipo de lazer (Ex.: Minas Tênis Clube em 1956), lojas (Ex.: Slooper) e a vida noturna de BH”, completou. Alcely falou, ainda, que, no curta, é mostrado o contraste das grandes mansões da Pampulha com as favelas de Belo Horizonte.

Iniciando sua carreira como fotógrafo, Alcyr fez curso de cinema com o produtor Herbert Richers, a pedido de Juscelino Kubitschek, que o solicitava, sempre, para a filmagem de importantes eventos. Produzindo um filme de JK, Alcyr trabalhou, também, com Cid Moreira, quando este iniciava sua carreira como locutor. O filme “Belo Horizonte em três tempos” tem a locução de Cid Moreira. Alcely salientou que seu pai realizou trabalhos em todo o país. “Temos mais de trezentas latas de filme, incluindo documentários que retratam, além da história de Belo Horizonte – Parque Municipal, Praça da Liberdade e Praça Raul Soares -, o Projeto Carajás, a construção do Porto de Tubarão, Serra Pelada, etc. Ou seja, o acervo revela a realidade de Belo Horizonte, de Minas Gerais e de várias partes do Brasil”, concluiu Alcely.

Preservação do acervo

Alcyr gostaria que seu trabalho não fosse desmembrado. Então, o acervo encontra-se intacto e a Câmara Municipal é o primeiro lugar onde um dos filmes é apresentado ao público. Fazem parte do acervo, além de equipamentos antigos, utilizados pelo cineasta, todo o vestuário apropriado a cada tipo de trabalho. O acervo fica [...] no escritório de Alcyr.

Esta matéria é de dezembro de 2009. Recebi esta semana o seguinte e-mail encaminhado por Hernani Heffner:

"Olá a todos

Envio esse email a várias pessoas e órgãos relacionados ao audiovisual, principalmente preservação e restauração, para alertar sobre um material precioso e único que está deteriorando e que precisa de alguém ou alguma empresa para que isso não ocorra.

Há em Belo Horizonte um acervo de mais de 400 rolos e equipamento de filmagem do Sr. Alcyr
Viana Costa, que fazia filmagens para Kubitschek quando ele era prefeito da cidade, incluindo um documentário maravilhoso chamado "Belo Horizonte em Três Tempos", com a locução de Cid Moreira, que mostra a cidade de manhã, tarde e noite. Também há imagens do projeto Carajás no começo, incluindo a primeira explosão, ou seja, há imagens não só de BH. Esse material está deteriorando, guardado pela filha dele, Alcyra Viana Costa. Segundo ela, está bem acondicionado, mas não segundo os critérios de conservação adequados.

[...]
Ela disse que não tem intenção de doar o material, porque era a vontade do pai dela antes de morrer que se vendesse isso, e da mãe dela também. À época desse vídeo dos 112 anos o Estado de Minas comprou trechos desse filme "Belo Horizonte em Três Tempos". Eu vi essas cenas na web, mas acho que elas estavam restritas para assinantes do EM, porque quem me passou foi um assinante, e nunca mais eu as vi. Ela fez uma cópia desse filme e anda com ele na bolsa o dia inteiro! Disse que eu poderia marcar sessões de exibição para quem estivesse interesse.

Na época da compra dos trechos pelo EM, ela disse que escreveu um projeto para a lei de incentivo à cultura de R$ 180.000,00 para que o CRAV comprasse esse material, o que não foi aprovado.

Ela também não sabia que mesmo se doasse o material os direitos autorais seriam dela ainda, mas mesmo depois de informada disso, ela perguntou quanto ganharia com isso, quanto geralmente paga-se pelo uso de um trecho.

Até agora não encontrei uma forma de reclamar esse patrimônio como bem público, de importância histórico-cultural-cinematográfica, e tentar força-la a doar isso,pois acho que seria o mais justo com o material. Também há sempre apossibilidade da compra disso por empresas ou particulares ou a criação de umprojeto bem elaborado para obter recursos públicos para que ela permita o acessoa esse patrimônio.


Esse e-mail é para tentar encontrar alguma forma de evitar que esse material se perca.


Grato,

Felipe Ivanicska"

No youtube há um vídeo intitulado "Vista Aérea de Belo Horizonte - Década de 50" com imagens do acervo Alcyr Costa/O Estado de Minas, que devem ser do documentário "Belo Horizonte em três tempos".
Parece que a Cinemateca Brasileira, em São Paulo, teria comprado esse acervo, mas não foi divulgada nenhuma confirmação oficial.
Segundo informações do preservador mineiro Alexandre Pimenta (e-mail pessoal de 6 de junho de 2010), o acervo de Alcyr Costa (Panta Filmes) tem cerca de 400 títulos, registrados em sua maioria em negativos, cópias e copiões 35mm, e estão guardados num local onde funcionou um cinema, na rua Tamoios, centro de Belo Horizonte. O CRAv (Centro de Referência do Audiovisual) teria tentado levar para frente projetos para assumir a guarda desse material, mas isso acabou não acontecendo.

15 comentários:

Ivanicska disse...

ótimo! q bom q o Hernani leu meu email, conheço-o só de nome mas sei q ele é uma boa figura pra se ter envolvida com isso. Mandei pra mais de 200 pessoas do Brasil inteiro e ninguém deu uma resposta a mim ou a Alcyra.

Fui buscar a matéria do site da prefeitura pra postar no facebook e divulgar isso e achei seu post!

Semana que vem minhas aulas acabam e vou voltar com gás pra essa luta, pq já tentei fazer todos os contatos à minha disposição (inclusive ligar pra Mesosfera pra ver se eles topavam bancar isso pra Praça da Liberdade)

Muito obrigado! Vlw!

Ivanicska disse...

esse material ñ está mais na Tamóios, a Alcyra disse q está num escritório dela

Rafael de Luna disse...

É um dever do blog colaborar para dar visibilidade a acervos audiovisuais que precisam ser preservados. Conte conosco e boa sorte.
Rafael

Clarinha disse...

OLA!
Sou Alcely,
(filha do cineasta Alcyr Costa)
Acabei de ler esse post.
O acervo continua com a familia e realmente estamos terntando vendê-lo.
Você escreve "Até agora não encontrei uma forma de reclamar esse patrimônio como bem público, de importância histórico-cultural-cinematográfica, e tentar força-la a doar isso,pois acho que seria o mais justo com o material. Também há sempre apossibilidade da compra disso por empresas ou particulares ou a criação de um projeto bem elaborado para obter recursos públicos para que ela permita o acessoa esse patrimônio."

Força-la a doar??
Talvez buscar um jeito de COMPRAR o material que meu pai levou a vida inteira para fazer, seria o mais justo, não??
Vamos dar valor ao trabalho de uma pessoa que registrou 50 anos de história dessa cidade (BH) e de todo País. Acho que isso seria agir com respeito e justiça. O autor de todo acervo (meu pai) queria VENDER, é um patrimônio dele. Acho que a vontade dele deve ser preservada.

Obrigada
Alcely

meu e-mail para contatos é clarinhabh2002@hotmail.com

Clarinha disse...

Rafael disse:
"O CRAv (Centro de Referência do Audiovisual) teria tentado levar para frente projetos para assumir a guarda desse material, mas isso acabou não acontecendo."

Pois eles não fizeram nada...não tiveram empenho em comprar e nem buscar patrocinio.
A memória inteira de uma cidade foi esquecida.
Ahh..eles queriam sim que o acervo tivesse sido doado.
Mas doar não é o que eu penso em fazer.
ALCELY

Rafael de Luna disse...

Oi, Alcely,
Obrigado por seu comentário e espero que o acervo de seu pai encontre um destino adequado. A única observação é que eu não sou o autor de nenhuma das palavras do post. Como não tinha conhecimento pessoal da questão, apenas reproduzi palavras de terceiros.
Um abraço,
Rafael

Clarinha disse...

Rafael,
desculpa...eu não estava me referindo a você e sim a pessoa que escreveu aquilo.
É realmente uma pena. O acervo está se deteriorando. São imagens belíssimas e de grande valor.
Mas já foi visto pela Secretaria Municipal de Cultura que nada fez para adquirir esse "tesouro". O preço que pedimos foi de 180 mil reais...nada perto do valor que aquilo tem. Se alguém estivesse realmente preocupado em conservar a memória de BH teria arrumado pelo menos uma empresa para patrocinar ou coisa similar.
Mas acho que realmente a memória da minha cidade ficou pra escanteio.
Triste não?
Trabalho 8 horas por dia e não tenho tempo para ficar visitando patrocinadores.
Alguém tem uma idéia aí?? Alguém poderia de dar um norte de como conseguir VENDER esse acervo
ALCELY

Clarinha disse...

As pessoas que se interessam na "preservação da memória" deveriam se mexer mais.
Tudo gira em torno de "Vontade Politica"
Um acervo desse nível, parado, deteriorando...é um apena!
ALCELY

Ivanicska disse...

Oi, Alcely.

O texto é todo meu exceto o em negrito. Desculpe pelos termos, mas o que faltou dizer (e que já havia te dito por telefone antes), é que esse material pode ser sim doado, para preservá-lo, e ainda assim você pode vendê-lo depois. Segundo consultei com os advogados do CRAV, você não perde os direitos autorais sobre o material e qualquer pessoa que for usar tem que ter sua autorização e te pagar.

Clarinha disse...

Ivanicska,
Eu não pretendo "doar" (nem forçada!!)
O acervo existe, e é de um valor imenso.
Realmente fiquei incomodada com suas palavras. Achei no mínimo "indelicado" (para não falar outra coisa). Se sua vida é cinema, imagens, estudos, projetos e etc ..é nesse meio que você vive e se desenvolve, ótimo!! você deve entender muito bem o que é levar a vida toda correndo pra lá e pra cá com uma máquina no ombro registrando os acontecimentos desde 1956 dessa cidade e de todo país. E deve entender muito bem o que é ter esse acervo todo nas mãos, querendo ter uma velhice mais segura, tentar vender mais de 400 documentários, não conseguir e morrer tentando.
Pela memória do meu PAI, e em respeito a ele, vou fazer exatamente o que ele queria. Estou disposta a VENDER o acervo...doar está fora de cogitação.
Não sou do meio de cinegrafistas, cinemas, acervos, preservação, imagens e coisas similares...mas percebo que existe a falta empenho de obter acervos como o do meu PAI (triste verdade). Vários acervos devem estar também deteriorando por aí sem patrocinio.
Gostaria de lembrar que a "Memória" é a coisa mais importante de um povo...e infelizmente está sendo colocada em segundo plano nesses casos.

Alcely
(filha de Alcyr Costa)

Rafael de Luna disse...

Alcely e Ivanicska,

Acho que está ocorrendo um mal-entendido no uso dos termos. Doação geralmente implica em dar um acervo a uma instituição (doar seus direitos patrimoniais, sobre os objetos, não necessariamente sobre a obra). O mais frequente, porém, costuma ser o "depósito em comodato", quando os direitos patrimoniais, assim como os autorais obviamente, não são transmitidos. Cabe à instituição prover ao acervo o adequado tratamento arquivístico, mas o uso comercial permanece com o "depositante". No caso de acervos audiovisuais históricos, isso é o mais comum, pois se depositam as matrizes originais geralmente em película e o que se vende (para TVs, documentaristas etc.) são cópias em vídeo feitas a partir dessas matrizes. Inclusive, uma vez depositadas as películas, os depositantes geralmente utilizam para suas negociações fitas com os filmes já telecinados que ficam em seu poder e praticamente não tem mais a necessidade de acessar as matrizes no arquivo.
Pode ser mais cômodo vender um acervo inteiro, em película, de uma vez só, mas não é fácil encontrar um comprador fora da alçada pública e mesmo nesta. Os arquivos audiovisuais públicos sofrem de falta crônica de recursos e geralmente não dispõe de políticas de aquisições de acervos, enquanto os arquivos comerciais (como as TVs) se interessam mais pelo uso imediato dos acervos, não necessariamente por sua salvaguarda.
Em meio a esse impasse, se eu fosse dar uma sugestão, eu indicaria o encaminhamento desse acervo para uma instituição que possa oferecer a melhor conservação possível e denote confiança e atenção ao depositante, e que esse depósito seja regulado por um contrato claro que contemple os deveres e direitos de ambas as partes. Só é possível vender alguma imagem se elas sobreviverem. Para isso elas devem ser bem acondicionadas para que seja possível fazer um levantamento preciso do que existe (descrição de conteúdo) e como está (avaliação do estado de conservação). Esse é o primeiro passo. Por mais importante que ele seja, é preciso cuidar do produto para poder vendê-lo.

Um abraço,
Rafael de Luna

Ivanicska disse...

Muito obrigado, Rafael, é isso que eu quis dizer, mas não sabia tão detalhadamente, só tinha conversado rapidamente por tel um vez com advogados do CRAV.
Me desculpe também, Alcely, acho que agora está melhor explicado e creio que esse depósito em comodato com auxílio de advogados (q o CRAV mesmo pode providenciar) é o melhor mesmo.

Clarinha disse...

Obrigado Rafael pela explicação do "depósito em comodato".
Sinceramente não é o que eu quero. Existem no acervo imagens inéditas e super importantes. Verdadeiros tesouros. Não vou correr o risco de colocar isso numa instituição para serem divulgadas por aí, mesmo me pagando direitos autorais. Porque a tecnologia existe, é um instrumento de divulgação extraordinário, e uma imagem corre como rastilho de pólvora assim que usada apenas uma vez....Você viu o exemplo que o Ivanniska deu...ele já tinha visto imagens de alguns trechos do filme do meu Pai e eu não recebi nem um tostão por isso.
Não acredito em nada disso...ou se faz a compra do acervo "totalmente" (claro que podem ver o estado de conservação que ele se apresenta) ou então ele fica onde está.
Entendo sua preocupação, Rafael. Realmente você deve ser uma pessoa muito bem intencionada. Entendo seu raciocínio de que é melhor vender algo que esta sendo cuidado adequadamente do que daqui a pouco não ter nada pra vender por causa do tempo. Mas eu fico firme na posição que quero vender de uma vez só, inteiro, sem ser por partes, para alguém ou algum órgão público ou até mesmo para uma empresa privada que queira cuidar da memória do nosso povo..eu não vou fazer mais nada...apenas lamentar que uma coisa tão valiosa se perca. Tenho minha profissão, tenho o meu sustento, não quero vender isso apenas por dinheiro mas (como já disse) para respeitar a vontade do meu PAI.

Alcely

Rafael de Luna disse...

Oi, Clarinha.
Entendo sua posição. Obviamente é mais interessante para você vender o acervo inteiro, do jeito que está. Porém, apesar de imaginar o valor histórico das imagens, tenho a impressão que isso não será muito fácil de acontecer.
Por outro lado, quanto a esse seu medo das imagens serem divulgadas sem o seu conhecimento, há muitos arquivos audiovisuais no Brasil que merecem respeito. As Cinematecas dependem da confiança que despertam em seus depositantes e vice-versa, e nenhum arquivo que se preza jamais autoriza, permite ou facilita o uso de qualquer imagem de um depositante sem o seu expresso consentimento. Você pode ter tido experienças ruins antes nesse sentido(provavelmente decorrente de relações comerciais anteriores), mas generalizações como você fez não condizem com a seriedade dos verdadeiros profissionais e instituições que atuam no campo da preservação audiovisual no Brasil e no mundo.
De qualquer modo, boa sorte com seu acervo e pode contar com minha ajuda que no eu puder ser útil.
Abs
Rafael de Luna

Felipe Ivanicska disse...

Alcely, as imagens que eu vi sao as que estao no youtube.

Tambem confio bastante nas cinematecas, ja trabalhei com preservacao no CECOR-EBA-UFMG e 6 anos em festivais de cine acompanhando esses bastidores, entao posso falar um pouco.