Por outro lado, enquanto alguns arquivos mantiveram seu foco no "filme", ignorando o que seria o "não-fílmico", outras instituições passaram a contemplar através de uma abordagem museológica objetos que contariam a história tecnológica das imagens em movimento. A George Eastman House: International Museum of Photography and Film, por exemplo, divide suas coleções em "fotografia", "cinema" e "tecnologia", possuindo um dos mais fantásticos acervos do mundo. Esses arquivos constituem os hoje chamados "museus do cinema", algumas vezes ligados a Cinematecas, e outras vezes instituições independentes, sem arquivos de filmes. Uma das principais características desses museus é o fato de, quase sempre, seus acervos terem origem em colecionadores privados: ex-realizadores, ex-projecionistas, ex-exibidores ou apenas fãs e aficcionados.Entretanto, se pensarmos "audiovisual" para além do "cinema", um museu teria que contemplar além de lanternas mágicas e câmeras, também computadores, hoje a principal ferramenta na produção, distribuição e exibição de imagens em movimento. Mas a histórica tecnológica recente, dos últimos 50 anos, marcada pela enorme velocidade da obsolescência dos equipamentos, às vezes é tão ou mais difícil de ser preservada do que a história do audiovisual, por exemplo, no século XIX.
Nesse viés, uma instituição muito interessante é o Living Computer Museum (LCM), na cidade de Seattle, EUA, que visitei no início deste ano. Sua localização não é casual, uma vez que Seattle é o lar da Microsoft, e o museu é uma iniciativa de Paul G. Allen, cofundador da empresa juntamente com Bill Gates. Nesse sentido, a característica apontada acima se repete, uma vez que o acervo do museu consiste em grande parte na coleção privada do próprio Allen, principal mantenedor da instituição que foi aberta ao público em 2012.
Na entrada do museu você tem a bilheteria e a lojinha, onde pega um elevador que sobe para o andar único onde fica a área de exposição. Em sintonia com a tendência dos museus de aproximar o visitante do acervo - característica também dos mais recentes museus de cinema, que incentivam a interação ao permitir que as pessoas girem manivelas e olhem pelos visores dos equipamentos em exposição - o museu de Seattle apropriadamente tem a palavra "vivo" em seu nome. O grande destaque é o fato dos computadores em exposição estarem funcionando e poderem ser utilizados pelos visitantes. Como está escrito no site do LCM: "acreditamos que o melhor modo das pessoas realmente compreenderem os sistemas computacionais é experimentando-os. Somente o hardware não pode ilustrar como era utilizar essas máquinas. Software, informação e interação humana completam a experiência".
Quando eu visitei o museu, vi pessoas de várias idades, tanto adolescentes que provavelmente só ouviram falar e nunca tinham sequer encostado o dedo em computadores de mesa, praticamente obsoletos para uma geração de computadores exclusivamente portáteis, quanto pessoas mais velhas. A nostalgia também me atingiu quando pude jogar Wolf-3D num computador 386 idêntico ao que eu tive em casa. Esse jogo - célebre antecessor de Doom e outros jogos em primeira pessoa - foi um dos primeiros que eu instalei no meu PC na minha adolescência.
Pensar os computadores sob o viés de uma "arqueologia das mídias", traçando as continuidades e descontinuidades de práticas de interação entre imagem e espectador ou de uma "história das telas" (screen history), também é algo muito interessante de se fazer ao visitar o museu.
computadores assumiram cada vez mais uma tela quadrada ou levemente retangular (semelhante à proporção 3x4 dos televisores da época), até, hoje em dia, praticamente se padronizar o formato panorâmico, claramente associado ao cinema pós-1950.
Em meio à área de exposição do museu, é possível ver, através da parede envidraçada, a área de trabalho dos engenheiros, reparando equipamentos doados ou se esforçando na árdua tarefa de fazer a manutenção dos computadores expostos e mantê-los em funcionamento. Para quem não puder visitar o museu, vale conhecer essa experiência através de seu site na internet.
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