quinta-feira, 15 de outubro de 2009

CARTA ABERTA AOS RESPONSÁVEIS PELA PROJEÇÃO DIGITAL NO BRASIL

A projeção digital chegou ao Brasil com a missão de democratizar o acesso aos filmes e libertar os distribuidores da dependência de cópias em 35 milímetros, cuja confecção e transporte são notoriamente caros. A instalação de projetores digitais permitiria ao público assistir a títulos que dificilmente seriam lançados nas condições tradicionais e ainda ofereceria condições para que espectadores situados longe do eixo Rio-São Paulo (onde se concentram quase 50% das salas de cinema do país) tivessem acesso aos mesmos títulos simultaneamente.

O que estamos vendo, no entanto, é uma total falta de respeito ao espectador no que se refere à exibição do filme propriamente dita. As razões são basicamente duas: projeções incapazes de reproduzir fielmente os padrões de cor e textura da obra e/ou projeções incapazes de exibir os filmes no formato em que foram originalmente concebidos. Sem falar no som, que muitas vezes ganha uma reprodução abafada, limitada ao canal central, muito diferente de seu desenho original.

A adoção da projeção digital pelos dois maiores festivais internacionais do Brasil (o Festival do Rio e a Mostra de São Paulo) e por outros festivais do país, infelizmente, não respeitou o que seriam critérios mínimos de qualidade de projeção de filmes em cinema – algo que é observado com atenção em qualquer festival internacional que se preze. Trata-se de uma situação particularmente alarmante tendo em vista o papel de formadores de plateia que esses eventos desempenham.

Sucessivamente, temos visto um autêntico massacre ao trabalho de cineastas, fotógrafos, diretores de arte, figurinistas, técnicos de som e até mesmo de atores. Apenas para citar um exemplo: Les herbes folles, o novo filme de Alain Resnais, originalmente concebido no formato 2:35:1, foi exibido no Festival do Rio, com projeção digital, no formato 1:78. Isso representou o corte da imagem em suas extremidades, resultando em enquadramentos arruinados, movimentos de câmera deformados e rostos dos atores cortados. Um pouco como se A santa ceia, de Leonardo Da Vinci, tivesse suas pontas decepadas, deixando alguns discípulos de Jesus fora de campo – e da história. Para completar o desrespeito, não há qualquer aviso em relação às condições de exibição e o preço cobrado pelo ingresso não sofre qualquer alteração.

www.gopetition.com/online/31415.html

3 comentários:

Anônimo disse...

Neste caso não acredito que a democratização do cinema através da projeção digital de esteja falho.
A democratização da informação sempre acarreta algum tipo de perda, seja ela qual for.
Independente da não fidelidade de cor, som ou textura de um filme, o que mais interessa neste contexto é a veiculação em massa do conteúdo intelectual do filme.
A mensagem neste ponto é muito mais importante do que os meios pela qual é transmitida.
Penso que neste contexto o preciosismo de um autor cinematográfico está acima do conteúdo, relevando prioritariamente a estética do filme e não o conteúdo intelectual.
Exemplo da democratização das artes são os livros, quando a representação da imagem nunca é e nunca será fiel a obra original.
De fato, uma obra original como é concebida é certeiramente a melhor opção, mas como está escrito, a dependência de projeções em peliculas fica muito caro e muitas vezes inviável para atingir a massa social.
No entanto projeções digitais, por serem mais viáveis, tem suas limitações técnicas, mas fica em evidência a mensagem passada para um publico muito mais extenso.
Não defendo a deformação da imagem, mas temos que ter consciência de que a tecnologia muitas vezes não acompanha a estética, é um longo caminho para o equilibrio e a padronização das midias e seus formatos.

Leonardo

Anônimo disse...

Neste caso não acredito que a democratização do cinema através da projeção digital de esteja falho.
A democratização da informação sempre acarreta algum tipo de perda, seja ela qual for.
Independente da não fidelidade de cor, som ou textura de um filme, o que mais interessa neste contexto é a veiculação em massa do conteúdo intelectual do filme.
A mensagem neste ponto é muito mais importante do que os meios pela qual é transmitida.
Penso que neste contexto o preciosismo de um autor cinematográfico está acima do conteúdo, relevando prioritariamente a estética do filme e não o conteúdo intelectual.
Exemplo da democratização das artes são os livros, quando a representação da imagem nunca é e nunca será fiel a obra original.
De fato, uma obra original como é concebida é certeiramente a melhor opção, mas como está escrito, a dependência de projeções em peliculas fica muito caro e muitas vezes inviável para atingir a massa social.
No entanto projeções digitais, por serem mais viáveis, tem suas limitações técnicas, mas fica em evidência a mensagem passada para um publico muito mais extenso.

Rafael de Luna disse...

Caro anônimo,

A questão não é ir contra o digital, que em si é um meio como qualquer outro (película, vídeo etc), mas a forma como ele tem sido utilizado. A democratização da informação depende tanto da tecnologia, quanto de seu uso e o formato, por si só, não garante nada.
Agora, exibir um filme num cinema, com ingressos caros e dentro de um festival (no qual tanto a "estética" quanto o "conteúdo" são igualmente importantes) com inúmeras falhas como as apontadas na carta é inadimissível. Não se pode aceitar que a tecnologia digital (um termo excessivamente amplo e vago) seja usada como etiqueta que disfarce desleixo, desrespeito e despreocupação. Ninguém advoga o retorno à película e o fim da projeção digital, mas sim que não se venda uma qualidade com o descuido de sempre - e isso não é preciosismo.

Rafael de Luna